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As primeiras ocupações humanas

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O Período Neolítico (6.000-2.800 a.C.)

A Culturas dos Vasos de Impressão Cardinal

expansCardial.gif (56963 bytes)        Por volta de 6.500 a.C., marolas culturais originárias da atual Turquia se expandem para a Grécia, trazidas por desbravadores orientais que se mudam para o Ocidente à procura de novas terras para cultivar e criar seus animais. Essa leva de tribos vai lentamente trocando a antiga economia baseada na coleta por outra, fundada na agricultura e pecuária. A excelência da nova tecnologia vai lentamente conquistando adeptos na população anciã. Apenas os rincões mais afastados ou aquelas comunidades situadas em terras inaptas para o plantio vão retardando a expansão neolítica. Ainda assim, em muitas dessas comunidades arcaizantes se adota a criação de cabras e ovelhas.

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        Tais populações ainda mesclavam a agricultura e o pastoreio com a caçada. Viviam em grutas ou cabanas de base redonda. Seus mortos eram enterrados dentro de fossas, sob as cabanas.

        Há sinais de trepanação em crânios desse período, mas não há certeza se ela era feita por razões médicas, mágicas ou culturais.

        A mudança da base econômica foi tornando sem sentido as antigas divindades protetoras da caça e fez surgir o culto a deuses protetores das colheitas. Por esse motivo, os povos da Cerâmica de Impressão Cardinal trouxeram de sua pátria natal a veneração a uma Deusa-Mãe, ligada ao culto à fertilidade. Esse culto se espalhou por todo o Mediterrâneo.

ceram_impr.jpg (8708 bytes)         Aos poucos, também se adota o uso de cerâmicas e tecelagem da cultura Megoulitsa, própria do norte da Grécia, da Albânia e da Sérvia. Eram cerâmicas impressas e decoradas com arcos ou decoração encoberta.   Faziam a decoração com ajuda de conchas de cardium, um molusco então abundante. A produção de cerâmica, em particular, permitiu reconstruir detalhadamente a evolução das diversas fases dessa onda cultural orientalizante. A cultura Megoulitsa passou, por isso, a ser conhecida como Cultura da Cerâmica Cardinal.

        Essa onda atinge o sul da Itália cerca de 6.000 a.C. Desse  período, ficou um vaso impressão encontrado nas ilhas de Tremiti, em Stentinello, Sicília.

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A Itália do sul

Cultura de Guadone

        Ao norte da Apúlia se desenvolveu a Cultura de Guadone (5.000-4.800), com a utilização de cerâmicas impressas evoluídas, fruto do contato com os Cardinais da Grécia e Albânia.

        Restos de agrupamentos humanos dessa cultura mostram poços, cisternas e cabanas circundadas na forma da letra C, além de outras estruturas hipogéias. Essas populações tiveram continuidade até a Idade do Bronze Inicial.

Cultura de Sesklo

        Uma nova onda cultural trouxe a técnica de pintura em cerâmica oriunda do norte da Grécia, Albânia e Iugoslávia. Chegou à Itália por volta de 4.800 a.C. e se instalou inicialmente na Apúlia.

        Suas casas tinham planta quadrada, paredes em taipa e eram circundadas por fossos de proteção.

        As cerimônias religiosas eram realizadas nas cavernas. Os mortos eram enterrados deitados sobre o lado esquerdo, em fossas ou nas grutas.

        Essa cultura deu à luz a três fases culturais:

Cultura de Passo di Corvo

        O vale do rio Tavoliere, na Apúlia (Messápia), abrigou a primeira fase da neolitização italiana. Era a área mais densamente povoada da Europa no Período Neolítico. Ali ficavam também as maiores aldeias.

Excavations at Passo di Corvo         A área era então coberta de florestas e úmida. Por isso, as populações locais faziam fossos em volta das casas, para drenar o excesso de umidade e manter o solo das habitações seco.

        No Neolítico Médio, o adensamento da população começou a formar pequenas aldeias.

        Os sinais indicam ter havido dois pequenos povoados na área de Riparo Cavallino (Monte Covolo), Campo dei Fiori and Podere Fredella  , durante a fase do Neolítico Inicial. Eles eram separados por 750 metros, mais ou menos. O segundo grupamento ficava na realidade dentro da área estendida de Passo di Corvo e era de uma fase anterior a Campo dei Fiori.Model of Passo di Corvo

 aldeiaPassoCorvo2.jpg (14745 bytes)       No interior das aldeias foram identificadas cabanas, poços, canais, currais e áreas de trabalho. Também ali foram encontradas cerâmicas (vasos e estátuas) e artefatos de pedras e ossos, como lâminas líticas, pontas de flechas e mós (Tine', S., 1983, Passo di Corvo e la Civilta' Neolitica del Tavoliere. Genova: SAGEP Editrice).

        A cerâmica dessa época era composta de utensílios impressos de face escura, outras de estilos Don Michele, Guadone, Lagnalo Piede e Masseria-La Quércia.

        Já durante o Neolítico Médio, os grupos tinham 90  cercados distintos, numa área de 28 hectares, circundada por diques. E um outro dique maior cercando uma área de mais ou menos 90 hectares.

        A subsistência da população era proporcionada pelo cultivo de trigo e alguns legumes. Criavam gado, carneiros, porcos e bodes. Aparentemente os caprinos predominavam. Há indícios de que a caça ainda suplementava a alimentação, pois foram encontrados ossos de javali selvagem.

        A tecnologia agropastoril fluiu muito lentamente em direção às tribos rarefeitas mesolíticas do centro e sudoeste peninsulares. Estima-se que levou cerca de 800 anos para romper as fronteiras limites apulianas.

        O rito mortuário se torna comum com a Cultura de Passo di Corvo. Eram bem pouco solenes, limitando-se a depositar o corpo do finado em uma cova rasa ou num dique, normalmente sem qualquer acompanhamento. Às vezes, um pote ou um pequeno ornamento. Não há evidências de segmentação social ou distinção por sexo. Em muitos lugares, os homens eram colocados sobre o lado direito e as mulheres sobre o lado esquerdo, mas isso não parece ter sido uma regra. O número de fêmeas e de machos era mais ou menos igual. As fraturas nos crânios também existem igualmente para ambos os sexos.

A chegada dos pelasgos Dimini

        Vastos contingentes da etnia pelasgo de Dimini chegaram ao sul da Itália entre 3.500 e 3.000 antes da Era Cristã, também provenientes da Grécia, onde sua cultura havia se superposto à dos povos Sesklos. Sua chegada ao sul da Itália deslocou todas as culturas ali anteriormente existentes.

        Os pelasgos estabeleceram colônias nas costas da Apúlia, de onde se espalhou para a Basilicata, sul da Campânia, Calábria e a ilha da Sicília.

        Introduziram na península a cerâmica de decoração em espiral.

        Eles trouxeram também as necrópoles de hipogeus para a Itália.

        Sua religiosidade girava também em torno da deusa-mãe da fertilidade.

        A Cultura dos Pelagos passa por duas fases distintas:

        A chegada dos indo-europeus, em particular os gregos, acabará por se impor sobre os pelasgos entre 2.300 e 1.800 a.C. As últimas notícias sobre os pelasgos em sua terra de origem, onde eram conhecidos como Povos do Mar, é a de que foram caçados por frígios indo-europeus e fugiram em barcos, tornando-se piratas e se dispersando pelo Mediterrâneo.

Cultura de Diana

ceramDiana.jpg (10584 bytes)        A Cultura de Diana é outra cultura local, originária da ilha de Lipari e que dali se estendeu à Sicília, Malta, às costas tirrênicas e ao resto da Itália meridional. Chegou na Romagna durante o Neolítico Superior (3.000-2.500 a.C.). Dela há vestígios em Sant'Egidio de Cesena. Da Romagna atingiu as costas adriáticas e permaneceu viva até o III milênio a.C.

        Caracterizava-se pela cerâmica brilhante, de coloração vermelho-coral, com alças tubulares e decoração incisa por triângulos quadriculados. Na Romagna, encontrou-se também cerâmicas de cor marrom, tendente ao negro, vasos cilíndricos e tigelas com alças, da fase final da Cultura de Diana.

        Na Campânia foram encontradas habitações tanto em grutas quanto em áreas abertas.

        Os sepultamentos eram de inumação em covas ou cistas líticas. Em Serra d'Alto foram achadas duas tumbas, uma das quais numa cela que antecipava o modelo Calcolítico dos sepulcros coletivos em hipogeus artificiais.

        A indústria lítica compreende lâminas, pontas de flechas e microlitos, geralmente de obsidiano proveniente de Lipari.

Cultura de Stentinello

vasoStentin.jpg (18802 bytes)        Na Sicília, a Cultura Stentinello vigeu na Sicília entre 4.900 e 2.900 a.C. Ela veio trazida através do mar Adriático pelos povos agropastoris dos Sesklos, que substituiu todas as culturas mesolíticas do sul da Itália.

        O comércio marítimo dos Sesklos permitiu aos sicilianos se desenvolverem bastante, absorvendo idéias de outros povos.

        Eles saíram das grutas para habitar em cabanas, adensadas em vilarejos fortificados.

        Eles aprendem a trabalhar com a argila, fabricando vasos de massa, isto é, argila e corretivos de sílex. Um dos tipos de cerâmica, talvez de uso ritual, era melhor elaborada, nas quais era comum o desenho de olhos apotropaicos, constituído de um par de espirais, típicos das culturas mediterrâneas, com um significado mágico protetório e também relacionado com uma força geratriz. Como no Neolítico a deusa-mãe apresentava um semblante de um pássaro noturno, cujos olhos alcançavam onde outros não conseguiam enxergar.

        Também produziam objetos com o obsidiano, importado da ilha de Eólia.

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A Itália central

        Por volta de 5.700 a.C., finalmente, o centro da Itália começava o processo de neolitização. Em Grotta dell'Uzzo (noroeste da Sicília)  os arqueólogos identificam sinais dessa transformação. Ali, os habitantes moravam em cavernas e se alimentavam da caça, da pesca e da coleta de moluscos, até mostrar os primeiros sinais da neolitização.

        Na Itália central viviam os povos Cardinais da tradição Pienza (4.400-4.200 a.C.), que evoluíram para os da Cultura Sasso-Sarteano (4.200-3.400 a.C.)

        Quando a Cultura de Sesklo atingiu a região, provocou a mudança da produção de cerâmica impressas cardinais para a de cerâmicas pintadas lineares e o surgimento de subculturas locais.

Cultura Catignano

        A cultura de Catignano já era identificada por volta de 4.200 a.C. e difundida na faixa costeira do Abruzzo, entre os vales de Pescara e do Tronto. Alguns traços dessa cultura se estendem até a bacia do rio Fucino.

        A cerâmica dessa gente é pintada, iniciando nova fase cultural na região. Normalmente a decoração é de bandas vermelhas. Os vasos têm forma muito simples e fundo convexo. Elas são muito bem cozidas e apresentam ótima qualidade

        Os vasos são parte do enxoval funerário nessas populações.

 

 

 

 

        Seu rito funerário mostra corpos depositados em posição fetal.

 

 

Cultura Ripoli

        A cultura Ripoli se estabeleceu no centro da Itália em substituição à de Catignano e ali vigorou entre 3.800 e 2.700 a.C.

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O norte da Itália

A fase Cardinal no norte italiano

        Não foi encontrado nenhum sítio funerário da época da chegada da onda neolitizante ao norte da Itália, o que faz supor que os povos mesolíticos dessa região abandonavam os corpos ao ar livre para decomposição ao invés de enterrá-los.

        A neolitização chegou ao norte provavelmente em duas ondas: uma originária do centro-sul e outra vinda dos Bálcãs. Na segunda metade do V milênio a.C. (4.500-4.100 a.C.) já estava instalada na Ligúria, como atesta o sítio de Arene Candide. Na primeira fase, a indústria lítica prosseguia as técnicas mesolíticas.

        Nesse período, duas culturas locais distintas coexistiam: a de Fiorano no nordeste italiano e a de Isolino no noroeste. A primeira seria mais tarde, na fase epicardinal, absorvida por ondas culturais do oriente e a segunda por uma onda vinda do ocidente.

Cultura de Fiorano

vilaFiorano.jpg (23643 bytes)        No V milênio a.C., no território Basso Vicentino, província de Vicenza, há traços de uma população neolítica em Cá Bissara, na comune de Poiana Maggiore (Vêneto). Ali foi encontrado um aldeamento composto de cabanas rudimentares. O sítio foi, em grande parte, destruído pelo fogo.

        Essa cultura teria vindo da da Itália centro-meridional e se estabelecido inicialmente na Emília central, norte da Toscana e sul do vêneto. Difundiu-se entre as   populações nômades mesolíticas locais, até então dedicadas exclusivamente à caça da fauna selvagem e da coleta de frutos silvestres.

        A região passou por três fases claras. Na fase pré-Fiorano aparecem objetos geométricos utilizados basicamente como armas.

        Na fase Fiorano, surgem objetos de sílex: raspadores, buris, perfuradores e outros artefatos  para as atividades domésticas, a par de abundante produção de taças e vasos. A cerâmica nessa era se tipificava na produção de jarros com uma alça e tigelas com quatro alças, decoradas a cordatura, com sulcos lineares ou em reticências. Essa cultura produziu na Emília uma cerâmica fina, de cor camurça, incluindo taças de longos gargalos, dotadas de   alças, xícaras também aladas e vasos globulares. A decoração mostra influências do estilo linear do centro europeu.

        Moravam em áreas descampadas ou em abrigos rochosos, principalmente em Trentino, Friuli e Alto Adige. Uma de suas aldeias mais típicas é a de Sammardenchia, um dos mais vastos grupamentos humanos europeus em sua época. Ali foram encontrados mais de 300 mil objetos em pedra polida, numa área de 600 hectares.

        Os moradores de Cueis, outro vilarejo típico, fizeram silos subterrâneos para a guarda dos cereais por eles cultivados, principalmente o trigo e a cevada. Deles faziam farinha.

        O repertório cerâmico mostra um escambo intenso com as áreas dálmatas, centro-danubianas e piemontesas.

        A Cultura de Fiorano se extinguiu pela invasão de povos Epicardinais Adriáticos vindos da Bósnia e Eslovênia, cerca de 4.000 a.C., trazendo consigo a Cultura do Vaso do Bocal Quadrado, também encontrada no vale do rio Fimon (ao sul de Vicenza) e em Val Liona.

        Os povoados neolíticos de Poiana Maggiore ocupam os motte, cerros argilosos que formam pequenas ilhas, principalmente nas águas do Adige.

        Outro vilarejo da Cultura de Fiorano foi encontrado em Lugo, na Emilia-Romana, entre Ímola e Ravenna . Ali se achou uma área cercada, no interior da qual havia uma cabana e estruturas acessórias (silo, fossa de decantação ou dejetos, uma cova de argila). Uma paliçada de cerca de 3 metros de altura e em volta dela um dique de argila com um pequeno fosso. A cabana tinha base retangular, dividida em dois ambientes. As paredes feitas de bambus entrelaçados e cobertos por uma camada de massa crua feita de argila e areia. Uma fila dupla de paus sustentava o teto. A cobertura decerto era feita de gravetos e feixes de vegetais. No ambiente principal da cabana, uma lareira circular, que também servia de forno.

        A indústria lítica ainda seguia a tradição mesolítica, com a presença de machados polidos e argolões de jade.

Cultura de Isolino

         A Cultura de Isolino se desenvolveu na região de Varese, norte do Piemonte, perto da fronteira com a Suíça, a partir de cerca de 4.300 a.C.

        Uma aldeia característica dessa cultura é a de Basse de Valcalona.

        Na região pré-alpina os Isolinos construíam cabanas nas proximidades dos lagos, em áreas drenadas, e acampamentos sobre elevações morfológicas.

        Ela se manteve viva até ser absorvida pela Cultura de Lagozza-Chassey, por volta de 3.300 a.C.

A fase Epicardinal do norte italiano

        Na época Epicardinal (4.500-3.500 a.C.), já se distinguiam três subculturas da Cerâmica de Impressão Cardinal: a franco-ibérica, a tirrênica e a adriática. As duas últimas se desenvolveram também na Itália.

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A Tradição Tirrênica

        A Tradição Tirrênica era própria dos povos agrícolas que habitavam as costas ocidentais italianas e as áreas pré-alpinas. Prosseguiam vivendo em cavernas ou cabanas redondas dentro de áreas rodeadas por um fosso. Seus mortos eram enterrados deitados sobre o lado esquerdo, cobertos de tinta ocre, dentro de fossas ovais cercadas de pedras. Algumas grutas serviam de templos e nelas se levava a cabo rituais religiosos diante de bacias naturais cheias de água.

        Seus povos deixaram mais de 200 mil petróglifos, alguns dos quais remontando ao V milênio a.C. As figuras antropomórficas mais antigas são estáticas, já as mais recentes (Idade do Bronze e do Ferro) as mostram em cenas de caçadas, combates armados ou atividades cotidianas.

        Essa tradição artística provavelmente se estendeu rumo ao sul. No monte Savino, próximo a Arezzo, foram encontradas cavernas identificadas como necrópoles, conhecidas localmente como Sasse delle Fatte (Tocas das Fadas). Nelas estão petróglifos de estilo arcaico (i.é., figuras humanas estáticas), uma espiral (o Sol?) e linhas. Essa localidade teria sido um centro litúrgico regional.

        A mais difundida cultura tirrênica é a de Lagozza-Chassey.

Cultura de Lagozza-Chassey

        Essa Cultura se formou na área noroeste da Itália por volta de 3.800 a.C., fruto do contato das tradições tirrênica e franco-ibéricas dos povos da Cerâmica Cardinal.

        Em Bisighela, perto de Faenza (Romagna), foram encontrados manufaturas da Cultura Lagozza. Sua cerâmica se caracteriza por taças negras, brilhantes, de fundo arredondado. Produziam, também, taças e vasilhas com base de suporte.

        A Cultura Lagozza apresenta traços das culturas do Neolítico Final francês, suíço, do norte italiano e do mediterrâneo ocidental.

        Viviam da caça, pesca, agricultura e criação de animais. Suas casas são quadrilaterais, com cantos arredondados.

        As necrópoles contém tumbas de cista em forma de caixas de lousas ou pedras secas, colocadas sobre outeiros ou seixos miúdos. Esse mesmo tipo de sepultura era comum na Catalunha, sul da França, Suíça e norte da Itália. Nas fases iniciais dessa cultura, elas são individuais ou para um casal. Após 3.600-3.000 a.C., por influência dos povos megalíticos do norte da França, se tornam coletivas, sob a forma de dólmens. Os corpos eram depositados sobre o lado direito e orientados a nordeste. Menires são erguidos para guardar os mortos.

        Deuses novos surgem. No monte Bego (Provença, França) passa a ser realizado culto ao deus-touro  e um deus-cervo (a quem os galos mais tarde chamarão de Cernunnos). Em partes do domínio Chassey se cultuava a deusa-serpente com cabeça de carneiro (chamada Borvo pelos galos), versão ocidental da cobra de chifres adorada no Oriente.

A Tradição Adriática

        A segunda Tradição foi chamada de Adriática. Por volta de 4.000 a.C., grupos adriáticos da Eslovênia e da Bósnia, pressionados por povos pelasgos e pelos povos da Cerâmica de Bandas (da atual Áustria), se deslocam para o nordeste da Itália. Quando chegou ao norte da Itália, a onda neolitizante trazida pela Cultura da Cerâmica Cardinal  entrou em contato com populações mesolíticas, gerando culturas regionais.

        A mais importante delas se desenvolveu em três estágios: Cultura de Quinzano, Cultura de Rivoli-Chiozza e Cultura de Rivoli-Castelnuovo.

Cultura de Quinzano

        Ela esteve viva entre 4.000 e 3.700 a.C. Foi uma extensão da Cultura de Danilo-Kakany trazida pelos povos da tradição Adriátrica da Cerâmica Cardinal.

        Fabricantes de cerâmicas gravadas lineares. Seus mortos são enterrados em cistas, sobre o flanco esquerdo, com a cabeça virada para o leste.

Cultura de Rivoli-Chiozza

        Floresceu entre 3.600 e 3.000 a.C. e é caracterizada pela confecção de cerâmicas de bocal quadrado, com decoração incisiva e temas em meandros e espirais, como as culturas do sul da Itália

Cultura de Rivoli-Castelnuovo

        Existiu de 2.400 a 2.200 a. C., já na Idade do Cobre. Suas cerâmicas também tinha bocal quadrado e eram de incisão e impressão.

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A situação na Sardenha

A cultura dos Vasos de Impressão Cardinal

        Pelo VI milênio antes da Era Cristã, chegavam à Sardenha colonos corsos ou vindos do continente via Córsega. Traziam a cultura do Vaso de Impressão Cardinal. Eles se estabeleceram nas costas e aos poucos   povoaram também o interior. Conheciam o obsidiano, uma rocha vítrea escura, de origem vulcânica, que extraíam do monte Arci e faziam escambo com o continente, pois esse produto foi encontrado Ligúria, Lombardia (Itália), assim como na Córsega e Provence (França). O obsidiano era excelente para a confecção de pontas de flechas e lanças, lâminas, raspadores e perfuradores.

        Aparentemente, grupos tomaram o controle das minas, enquanto as vilas costeiras cuidavam da comercialização. A hierarquia social e econômica vai ganhando contornos e deixa jóias e cerâmicas finas nos contextos mortuários. Dessa época são os primeiros sinais de interação cultural, direta ou não, com os Bálcãs e o Mediterrâneo oriental, aí incluído o culto pan-mediterrâneo da Deusa Mãe, verificado numa estatueta de basalto encontrada.

        Essa gente morava em grutas e abrigos sob as rochas, onde também sepultavam seus mortos. Se alimentavam da pesca, da coleta dos abundantes moluscos costeiros e dos prolagus, uma espécie de rato gordo hoje extinto. Construíam arpões e flechas com o obsidiano.

        Manufaturavam vasos de cerâmica, que era decorada pressionando a argila ainda mole com as bordas de uma concha de molusco da espécie cardium, de onde o nome desse horizonte cultural.

A cultura Filiestru

        Essa cultura evoluiu para um horizonte Epicardinal chamado Filiestru, que pelo Neolítico Intermediário já apresentava um matiz cultural batizado como Bonu Ighinu (c. 4.500-4.000 a.C.).

        As exportações do obsidiano e o consequente contato com o continente continuavam se refletindo na cultura local, cuja cerâmica apresenta sinais de influências de uma larga faixa de culturas do norte da Itália e sul da França no período 5.500-4.000 a.C.

        Nos períodos da Culturas Cardinal e Filiestru os tamanhos dos sítios achados indicam pequenos bandos, do tamanho de uma família, cuja economia se baseava na criação de animais e no consumo de grãos e legumes, talvez coletados.

A cultura Bonu Ighinu

        Na era da Cultura Bonu Ighinu (c. 4.000-3.500 a.C.), os sítios são mais amplos e desenvolvidos. Embora as habitações em cavernas ainda sigam em uso, já aparecem os assentamentos ao ar livre, que rapidamente evoluem para vilarejos no Neolítico Final. Eles preferentemente se situam em vales férteis e não mostram sinais da existência de colinas fortificadas.

        Eles iniciaram a prática de sepultar os defuntos em cavernas artificiais, cavadas nas paredes rochosas, que os sardos hoje chamam de Domus de Janas (casas de fadas ou de espíritos).

        A cerâmica nesse período ganhou elegância e refinamento, com paredes mais sólidas e lúcidas, decoradas ou ornadas.

        O culto à Deusa-Mãe continua sendo o elemento central da religiosidade insular.

A cultura Ozieri

        Nessa época, por influência da chegada dos pelasgos ao sul da Itália, a cultura Bonu Ighinu evoluiu para a Cultura Ozieri (ou de San Michelle), que perdurou por mais de meio milênio, entre 3.500 e 3.200 a.C. Traços de uma cultura semelhante à helênica aparecem na ilha: vasos como as píssidas e o trípodo, finamente decorados com motivos incisos ou impressos sobre a argila e frequentemente coloridos com ocre vermelho ou pasta branca.

        Os Ozieri eram pastores e agricultores, além de caçarem e pescarem nas águas marinhas das bacias. A manufatura do obsidiano se refinou. Já se nota uma divisão do trabalho, ainda que incipiente.

        Cerca de 40% dos sítios da Cultura Ozieri se situam em baixos cerros, de frente para o Campidano de Cagliari e a lagoa de Cabras. Apenas 8 dos 127 sítios tiveram um antecedente Bonu Ighinu, indicando serem resultados de expansão populacional ou imigração em grande escala.

        Exceto num pequeno número de habitações espeológicas, os assentamentos Ozieri eram vilas sem muros, com marcada hierarquia social e econômica. As casas tinham base de pedra, sobre as quais eram assentados uma estrutura de madeira e palha, como os restos ainda visíveis em San Gemiliano di Sestu (perto de Cagliari) e Cuccuru Is Arrius (perto de Cabras).DomusJanas2.jpg (16549 bytes)

        Os sinais mais visíveis da Cultura Ozieri são as cerca de 2.000 tumbas coletivas hipogéicas espalhadas pela ilha. Elas provavelmente se originaram das cavernas artificiais que os Bonu Ighinu escavavam para seus sepulcros antes do Neolítico Médio (como nos sítios de Serra d'Alto e Arnesano).DomusJanas.jpg (12760 bytes)

        Algumas delas são muito simples, um simples vão na rocha, enquanto outras mostram uma complexa rede de galerias, formando uma necrópole, como as de S. Andrea Priu (Bonorva, Sassari), a do Anghelu Rujiu, próximo a Alghero ou a de Pani Loriga, junto a Santadi.

        O ritual fúnebre consistia de colocar o defunto sobre um banco especial, ao lado de seu enxoval mortuário. Ás vezes esculpiam nas paredes interiores da Domus de Janas uma réplica da casa onde os mortos habitavam e objetos quotidianos. Outras vezes, os homens esculpiram nas paredes cabeças e cornos de touro ou enigmáticos círculos (talvez mamas femininas), símbolos de deuses-pais e deusas-mães.

        Um túmulo do Neolítico Final em Li Muri (Arzachena), similar ao de Muteddu (Goni), continha uma taça com alças, típica da Cultura Diana (c. 3.700 a.C.), que conhecia a metalurgia do cobre.

        A arte dos Ozieri era rica e elegante, via de regra ligada ao culto da divindade. Foram encontradas pequenas estátuas que reproduzem o culto mediterrâneo da Grande Mãe ou do Chifre do Touro, símbolo do poder sexual masculino.

        Durante as fases posteriores desse horizonte, começam a aparecer as arquiteturas de grandes pedras, os megalitos, decerto reflexo do estabelecimento da cultura megalítica de Lagozza-Chassey na Ligúria e Etrúria.

        Os dólmens (do bretão thol, mesa, e men, pedra) são encontrados principalmente na zona rural da região centro-norte da ilha (Arzachena, Olbia, e Luras, todos em Sassari, e o de Sa Coveccada, em Mores). São sepulturas monumentais constituídas de três pedras: duas laterais e uma terceira deitada sobre elas. Os círculos mortuários, pedras fincadas verticalmente com um sepulcro no centro (geralmente uma gaveta de pedra retangular), como o de Arzachena (em Li Muri), sobre o qual o morto era deixado ao ar livre para descarnar. Após limpos os ossos, eles eram depositados dentro da gaveta. Os menires (do bretão men, pedra, e hir, comprida), grandes pedras de formato de um charuto que eram fincadas verticalmente e algumas vezes representava o falo masculino. Noutros vinham esculpidos os círculos, talvez associados à deusa-mãe.

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Administrador: Marco Polo Teixeira Dutra Phenee Silva