Nos velhos tempos - digamos nos idos de 1960 -, se você fosse esperto e tivesse faro para ações e títulos podia fazer carreira na Wall Street. Tudo o que você precisava era ter bom senso e intuição sobre a direção geral da economia. Bons contatos e um pouco de dinheiro de herança também ajudavam.
Naquela época, um certificado de curso de contabilidade numa escola superior ou mesmo numa boa escola de segundo grau tinha certo peso. Na realidade, o mestrado em Administração ou em Direito pela Harvard, Columbia ou Yale seria um passaporte ainda mais eficiente para o topo, mas não por causa das técnicas financeiras ou de investimentos ensinadas nessas escolas. Finanças era uma matéria muito simples naquela época, onde quer que você estudasse não era uma matéria global nem eletrônica. O que você conseguia estudando em Harvard ou Wharton, em comparação com escolas menores, eram contatos - muitos contatos - especialmente com os altos líderes.
Você consegue bons contatos quando estuda em Harvard, Yale ou Columbia, e eles certamente ajudam. O que mais importa hoje, porém, é conhecer computação. Escrever programas, entender equações, saber lidar com números são as habilidades que mais contam. Ter familiaridade com supercomputadores e "sistemas especialistas"1 - saber como construir modelos de computadores e entender de probabilidade - também ajuda.
1. Em inglês, expert system - um programa que sintetiza o conhecimento de um especialista em determinada área e visa a ajudar um não-especialista resolver problemas dentro da área. O sistema é capaz de fazer inferências a partir de informações que lhe são fornecidas pelo usuário. Uma grande firma de seguros, por exemplo, pode usar um sistema especialista para fazer urna análise preliminar das apólices de seguro de vida. (N.T.)
Na verdade, ninguém pode entrar na nova economia eletrônica sem um grande conhecimento de tecnologia avançada. Consequentemente, as firmas de Wall Street - que negociam com dinheiro, ações, títulos e outros produtos em todo o mundo - têm gasto fortunas para adquirir os recursos tecnológicos.
Também têm gasto fortunas para contratar o que em Wall Street são chamados de "quants" - matemáticos, economistas e engenheiros (a maioria ex-acadêmicos) que criam as estratégias quantitativas usadas pelas firmas para ganhar dinheiro.
Em 1990, no Jefferies & Company, um banco de investimentos com sede em Los Angeles, mas com escritórios em New York e Londres, apenas duas das 50 pessoas que trabalhavam no projeto de sistemas de negociação automatizados tirtham experiência anterior em corretagem de valores. O restante da equipe era composto de matemáticos, economistas, físicos e inventores de computador. Um dos quants do Jefferies & Company foi quem criou os programas usados pela NASA para mandar a sonda Galileo para Júpiter. Outro se especializou em "sistemas especialistas", programas sofisticados que simulam o julgamento humano.
Os quants podem criar programas para os grandes sistemas de computadores da firma ou podem criar o que os japoneses chamam de zai-tech, conceitos e técnicas de engenharia financeira altamente elaborados que permitem, por exemplo, que um operador compre dólares a uma taxa de câmbio e simultaneamente os venda a outra taxa, com um simples apertar de botão. Cada vez mais, isto é que é valorizado.
Na economia eletrônica, os quants são muito bem remunerados por seus Ph.D.s e por seus cérebros. Um quant típico de Wall Street pode ganhar $ 400.000 por ano para fazer cálculos e escrever os programas de computador necessários na construção de um sistema avançado de negociação.
Em 1983, Fisher Black, um matemático com Ph.D. por Harvard, que desenvolveu o modelo Black-Sholes para determinação do valor de uma opção, estava ganhando $ 43.000 por ano como professor de matemática no Massachusetts Institute of Technology. Em 1984, foi contratado pela Goldman Sachs & Company2. Em 1986, tomou-se sócio. Como um dos altos quants da Goldman, Black - um homem de fala macia que é a antítese do corretor de Wall Street recebe mais de $ l milhão por ano entre salários e gratificações.
2. Um dos nomes mais tradicionais de Wall Street, fundada em 1869. (N.T.)
Os quants que trabalham em operações ganham muito, muito mais. Não é raro um matemático, transformado em operador, ganhar salário mais gratificações de $ 1,5 a $ 3 milhões.
E ainda existem as megaestrelas: Lawrence E. Hilibrand, um matemático de 31 anos de idade, também do MIT, usa o computador para negociar títulos nas bolsas eletrônicas do mundo para a Salomon Brothers em New York. Em 1990, que não foi um ano particularmente bom, Hilibrand ganhou $ 23 milhões transformando seus palpites em dólares.
Os quants são cercados de segredos. Os programas que criam são os instrumentos que permitem que suas empresas ganhem dinheiro no padrão megabyte. Os programas que sinalizam quando comprar e vender e que calculam instantaneamente o valor do que vai ser comprado e vendido são cuidadosamente guardados. E para impedir que seus quants - juntamente com seus segredos - sejam atraídos por outras firmas, muitas empresas se recusam a divulgar as identidades de seus cérebros analíticos.
A Bear Stearns & Company, uma das maiores e mais prestigiosas firmas de Wall Street, sequer permite que seus quants declarem quanto ganham. A regra é simples: se você declarar quanto ganha, está despedido.
A elevação dos quants aos níveis de remuneração de Wall Street, contudo, faz parte de uma tendência mais ampla que está tomando conta da comunidade financeira mundial em sua luta para conquistar o dinheiro megabyte. A tenderia é de que a negociação eletrônica em geral substitua o assessoramento como principal serviço vendido pela comunidade financeira. Os banqueiros de investimento que sabem como estruturar uma fusão ou aquisiçao estão sendo substituídos na hierarquia por operadores que sabem como mudar o dinheiro de um mercado para outro. Merrill Lynch & Company, a maior firma de investimento dos Estados Unidos, agora tem operadores chefiando duas de suas seis divisões, enquanto seus banqueiros comerciais foram rebaixados de posto.
A Shearson Lehman Brothers3, outra grande firma de Wall Street, elevou seus operadores aos mais altos postos da hierarquia, desalojando assim os banqueiros de investimento mais tradicionais. O CS First Boston4, com sede em Wall Street e controlado pelo Crédit Suisse, o grande banco de Zurique, está apostando que a colocação de papéis vai substituir os investimentos e transformar-se em sua principal operação.
3. Banco controlado pela American Express. (N.T.)
4. Um dos bancos de investimento mais ativos do mundo. Já liderou operações de lançamento de eurobônus de empresas e bancos brasileiros. Fez o lançamento pioneiro de um fundo de ações brasileiras na Bolsa de New York. Está no Brasil desde 1988. (N.T.)
A ascendência da colocação de papéis, amplamente definida como a habilidade de realizar transações eletrônicas rápidas, numa grande variedade de mercados financeiros e bolsas de valores em todo o mundo, é responsável pelo aumento do faturamento das grandes firmas de Wall Street. E também pelo aumento da participação desse setor na atividade econômica geral do mundo.
Na Salomon Brothers, as operações com ações, bônus, taxas de juros, moedas estrangeiras, hipotecas e outros produtos agora respondem por 80% de seu faturamento anual de aproximadamente $ 5 bilhões. De acordo com um artigo no The New York Times, em 1970 essas operações representavam 70% do faturamento.
Na Morgan Stanley Group Inc., a participação das operações financeiras no faturamento total subiu de 38% em 1987 para 50% em 1993. E está crescendo também em outras firmas em todo o mundo.
A ascensão das operações financeiras significa que o foco das finanças mudou de "investimentos" para "transações" em conseqüência da capacidade dos computadores e das redes de telecomunicações para manipular, sem o menor esforço, grandes quantidades de informações e as mandarem para qualquer parte do mundo.
A era da infortunação deslocou as finanças de sua antiga função estática até mesmo passiva - de comprar ativos e fazer investimentos e conservá-los para algo novo: ganhar dinheiro recolhendo as variações momentâneas das diversas bolsas de valores.
A nova mentalidade de transações não se restringe, porém, ao mercado de ações. Todas as transações financeiras, desde a compra de um certificado de depósito até a colocação de fundos numa conta de mercado de capitais, foram afetadas pela nova mentalidade voltada para transações. Nem mesmo aplicações tradicionais, como os velhos fundos mútuos, são mais comprados e conservados; são comercializados como ações. Dezenas de fax, boletins online5, serviços de troca de informações entre usuários de redes, alertam os investidores em todo o mundo sobre o melhor momento de comprar e vender cotas de um fundo.
5. Serviço colocado à disposição dos assinantes de uma empresa fornecendo as notícias do dia, informações sobre o mercado de ações etc., através de linhas de telecomunicações. Por exemplo o Dow Jones News/Retrieval Service, da Dow Jones, editora do Wall Street Journal e Barron's, o CompuServe, o GEnie da General Electric etc. (N.T.)
Os corretores já não Precisam conhecer a história de uma empresa, nem sua administração. Se as ações de uma empresa se encaixam em determinada fórmula em termos de preço, volatilidade e dividendos, elas são compradas, independentemente do que a empresa em questão faz ou de quem a administra.
Naturalmente, ainda existem investidores
que analisam balanços, lêem relatórios anuais e visitam
fábricas para ver de perto como uma empresa é administrada.
Esse tipo de comprador de ações está rapidamente se
tomando minoria, à medida que a tecnologia financeira se expande.
Há mais de uma década que as trezentas maiores firmas de Wall Street, em conjunto, vêm investindo cerca de $ 3,4 bilhões por ano para construir seu arsenal de alta tecnologia composto por computadores, programas, equipamentos de telecomunicações e de coleta de informações. Os orçamentos de tecnologia aumentaram em 19% ao ano durante os anos 80.
Em 1991, planejaram gastar mais ainda - 7,5 bilhões, ao todo, de acordo com um levantamento do Economist, de 2 de fevereiro de 1991. Essa soma astronômica corresponde a 20% de seus gastos totais. Em termos percentuais, isso representa cerca de quatro vezes os gastos em tecnologia de Detroit. Estas somas elevadíssimas equiparam Wall Street com a indústria farmacêutica.
As pesquisas realizadas em escolas e universidades também contribuem para o arsenal tecnológico de que essas firmas precisam para se manterem competitivas dentro da economia eletrônica. O estado de New York, com a maior concentração de financeiras do país, criou, dentro do Brooklyn Polytechnic College, um centro de pesquisa tecnológica para atender exclusivamente ao setor financeiro. Progamas similares existem também no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Berkeley e na Wharton School. E na Kellogg School, da Universidade Northwestem, na Harvard Business School e nos laboratórios dos grandes fabricantes de computadores, estudiosos estão procurando meios de acelerar o ritmo e elevar o nível de interação dentro da economia eletrôrtica.
De acordo com William H. Gates, fundador e presidente da Microsoft Inc., a maior produtora de software do mundo, as grandes firmas de Wall Street estão entre as empresas tecnologicamente mais avançadas do mundo. Gates diz que elas são avançadas, não apenas porque têm o melhor hardware e o melhor software existentes, "mas porque sabem usá-los das maneiras mais sofisticadas".
Às vezes, porém, toda essa tecnologia causa problemas. No dia 25 de março de 1992, às 4h00 da tarde, um funcionário da Salomon Brothers interpretou mal um memorando e apertou o botão "vender" de um dos computadores- da empresa. Entretanto, em vez de vender $ 11 milhões em ações de um click, como dizia o memorando, o botão que o funcionário apertou vendeu $ 11 milhões de ações da carteira do cliente - no valor de mais de $ 100 milhões. Essa venda foi suficiente para fazer o índice Dow Jones despencar 16 pontos naquele dia.
As firmas instaladas em Wall Street e suas subsidiárias em todo o país também vêm gastando muito dinheiro para criar mercados eletrônicos privados que funcionem 24 horas por dia. Elas estão criando alternativas rápidas e flexíveis para os grandes mercados estabelecidos, como a Bolsa de Valores de New York e a Bolsa de Valores Americana. Também estão estabelecendo sistemas que põem operadores do mundo inteiro em contato direto uns com os outros. Com esses sistemas, um toque no mouse do computador realiza uma transação entre partes localizadas em qualquer ponto do espaço eletrônico.
Alguns desses novos sistemas são simplesmente painéis computadorizados. Um operador envia uma mensagem de que quer comprar um bilhão de ienes, por exemplo. Alguém que está ligado ao sistema e tem um bilhão de ienes responde com um preço. Se for um preço aceitável, a transação é realizada. Caso contrário, os potenciais comprador e vendedor podem discutir eletronicamente por alguns segundos até chegarem a um acordo. Se a transação não for realizada, eles simplesmente desligam, sem ressentimentos. Aliás, sem qualquer tipo de sentimento; apenas uma série de cálculos precisos executados em seus computadores.
Outros sistemas têm programas de software muito mais intrincados do que os dos painéis eletrônicos. Podem ajudar a fazer uma transação quando há vários compradores interessados e vários vendedores ou quando uma ordem de compra for tão grande - digamos, dez bilhões de ienes - que sejam necessários vários vendedores para completá-la.
Os sistemas mais complexos têm programas capazes de ponderar eletronicamente todas as ofertas e lances uns contra os outros. Então, calculam o que se chama "preço de leilão", baseado em quantas unidades de iene, por exemplo, estão sendo oferecidas para venda e quantos compradores estão interessados em comprá-las. Esses sistemas mais complicados reproduzem as regras da oferta e da procura. Dessa maneira, simulam o que acontece em mercados como os barulhentos pregões da Bolsa Mercantil de Chicago.
Algumas dessas redes eletrônicas, como a bolsa eletrônica de futuros, que funciona 24 horas, chamada Globex (Global Futures Exchange), criada pela Bolsa Mercantil de Chicago e a Reuters Holdings Plc., permitem que as transações entre partes sejam feitas anonimamente. A idéia é que o melhor preço será obtido se nenhuma das partes envolvidas souber com quem está negociando. A Globex, inaugurada no dia 25 de junho de 1992, custou $ 70 milhões para ser montada e testada. Atualmente ela opera principalmente com moedas - futuros e opções sobre futuros de libra, marco, iene, franco suíço, dólar canadense, bilhetes do Tesouro6 e depósitos a prazo de Eurodólar. E faz isso enquanto os mercados convencionais estão fechados. A Globex, porém, está em condições de fazer transações com moedas e outros produtos de qualquer parte do mundo, dia e noite. E o número de pessoas que podem participar da Globlex é praticamente ilimitado. O volume de redes de negociação da Reuteur’s - sem contar a Globex que está engatinhando - está aumentando 45% ao ano.
Outros sistemas novos, como o Aurora, o sistema eletrônico desenvolvido pela concorrente, Chicago Board of Trade, operam sob outra filosofia: manter tudo às claras. Esses sistemas acompanham cada transação e submetem-na ao escrutínio público. Se você entra no Aurora, você sabe com quem está negociando. Todos esses sistemas tomam possível realizar milhares de transações a mais do que antes da invasão de Wall Street pela tecnologia. Também aumentam o horário das transações para 24 horas por dia.
Numa economia eletrônica, cada participante tem a liberdade de escolher se quer negociar anonimamente ou não. A flexibilidade dá aos corretores de moedas, ações, bônus e outros produtos mais opções de negócios. Digite uma tecla e entre no espaço eletrônico da Globex, onde a vida se movimenta no anonimato. Entre na rede Aurora e todo mundo saberá seu nome.
Os bancos, sujeitos à intensa concorrência das firmas de Wall Street e dos setores não bancários da economia financeira, vêm gastando até mais dinheiro, talvez três vezes mais do que Wall Street, para informatizar suas operações de mão-de-obra intensiva e de alcance global.
6. O Tesouro dos Estados Unidos emite três diferentes categorias de papéis: Treasury bills - títulos com vencimento entre 3 e 12 meses; Treasury notes - títulos com vencimento entre um e dez anos, com valor aproximadamente igual ao valor de face (à medida que é transacionado, o preço do título sobe ou cai). Esse título paga juros a cada seis meses, por cupom; Treasury bond - títulos com mais de dez anos de prazo.
Os Eurobonds e Euronotes são os títulos correspondentes emitidos na Europa.
Os bancos têm que gastar mais,
muito mais, para se manter na concorrência. Devido à tecnologia
e à natureza de seus organogramas, os bancos estão tornando-se
rapidamente instituições antiquadas, como mostra o aumento
das falências de bancos e as fusões forçadas.
De acordo com estimativas feitas por Paul F. Glaser, presidente da Comissão de Tecnologia do Citicorp, os dez mil maiores bancos norte-americanos, com cerca de $ 3 trilhões em depósitos, administram pouco mais dinheiro do que as 300 maiores administradoras de valores - as firmas que administram os fundos de pensão, fundos mútuos e fundos de investimentos de curto prazo do país. E os bancos são muito menos eficientes.
Hoje, com um computador, 20 pessoas podem facilmente administrar um portifólio de investimentos de $ 10 bilhões num grupo de fundos mútuos, como os administrados pela Dreyfus, Fidelity e Merrill Lynch. Podem oferecer quase todos os serviços que os bancos oferecem - cheques, depósitos diretos de folhas de pagamentos e outros - que simplesmente compram de bancos comerciais e vendem para seus clientes.
E podem ganhar comissões de 1,5% ou mais para fazer isso e ainda cobram até 5% dos investidores, cada vez que movimentam suas aplicações. Estes fundos não estão sujeitos à exigência governamental de depósitos em reserva nem de seguro. Sua operação é muito enxuta, com quase 100% do dinheiro investido quase o tempo todo. E se comprarem contratos de futuros, através de uma conta margem7 podem ter mais do que 100% de seu dinheiro aplicado durante certos períodos de tempo.
Já os bancos, com sua enorme infra-estrutura e seus modos tradicionais de operação, precisam de cinco mil pessoas para administrar $ 10 bilhões. Os bancos precisam de caixas, analistas decrédito, supervisores regionais, gerentes de patrimônio, avaliadores, comissões de hipoteca, comissões de empréstimo e inúmeros vice-presidente. Os fundos só precisam de alguns microcomputadores avançados ou estações de trabalho, alguns equipamentos de telecomunicações e muito software.
Em conseqüência disto, os bancos estão gastando maciçamente na informatização de suas operações. Os caixas eletrônicos e as redes que lhes dão suporte estão em toda a parte. Em Manhattan, vários bancos têm agências onde só trabalha um porteiro. Todos os caixas são eletrônicos.
E os bancos estão procurando interligar seus sistemas de pagamentos também. Com dois bilhões de cheques diários, eles têm muito que controlar. Quanto mais rapidamente conseguirem movimentar o dinheiro, melhor serão seus resultados. Estão informatizando seus sistemas de crédito e suas operações com cartões. Estão estudando maneiras de usar os computadores para juntar hipotecas, financiamento de automóveis, contratos de leasing, formando pacotes que rendam juros e possam ser vendidos para investidores em todo o mundo. Os bancos têm, contudo, um longo caminho a percorrer.
7. Dinheiro ou títulos depositados por um cliente como garantia de que honrará os compromissos assumidos junto a seu corretor. (N.T.)
Para as empresas que produzem a tecnologia de finanças - basicamente IBM, Unisys e DEC -, isto representou um grande crescimento. Grande o suficiente para levar uma empresa tradicional, como a AT&T - que abastece muitas redes de fibra óptica usada pela comunidade financeira -, a gastar $ 7,4 bilhões na compra da NCR, que fabrica caixas eletrônicos, caixas de banco e computadores, na esperança de que, juntas, possam entrar no próspero mercado de tecnologia financeira e dominá-lo. Também fomentou o crescimento de novas empresas, como a Stratus Inc., de Boston, que fabrica computadores e terminais de uso exclusivo em mesas de operação.
Os gastos em tecnologia realmente valem a pena porque aumentam o volume de transações que as bolsas podem processar e diminuem o risco (50% de todas as operações realizadas na Bolsa de Valores de New York são em lotes de dez mil ou mais ações). Usando a mais avançada tecnologia, a Bolsa de Valores de New York vem aumentando constantemente sua capacidade em termos de volume de transações.
Em 1964, quando os computadores começaram a ser usados na sala de operações, a Bolsa de New York - com seus "tickers"8 localizados em corretoras em todo o país - mal tinha capacidade para negociar 10 milhões de ações por dia. Desde 1991, a Bolsa de Nova York pode negociar l bilhão de ações por dia de compradores localizados em qualquer lugar do mundo. Isto representa um aumento de 100% em apenas uma geração. E na semana de 15 de março de 1991, cerca de 190 trilhões de ações foram negociadas automaticamente por computador - uma façanha com que ninguém sonhava há uma geração. E logo, a Bolsa de New York estará operando 24 horas por dia.
Em conseqüência de seus pesados investimentos em tecnologia, a Salomon Brothers agora pode negociar, anualmente, até $ 2 trilhões (o equivalente a mais de um terço do produto nacional bruto dos Estados Unidos) em ações, bônus, moedas, hipotecas e outros produtos. Normalmente a Salomon compra 35% de todos os bônus que o governo vende e, ilegalmente, já comprou até 85% dos bônus oferecidos pelo Tesouro dos Estados Unidos, o que custou ao antigo presidente do conselho, John H. Gutfreund, seu emprego. Para a Solly (apelido da Salomon), arriscar $ 4 bilhões ou mais, por mês, na compra de bônus do governo representa simplesmente o preço de estar na atividade.
8. Impressora ou vídeo telégrafo que recebe e registra, à distância, cotações de ações. (N.T.)
Cada ano, passa pelos computadores da Salomon Brothers aproximadamente o equivalente ao total dos depósitos bancários dos Estados Unidos, uma façanha considerável, se levarmos em conta as milhares de diferentes contas que os clientes possuem. A Salomon pode negociar produtos para clientes localizados em bolsas tão diversas como as de Tóquio, Budapeste, Varsóvia, New York e Londres.
Em Chicago, na Bolsa Mercantil, contratos de futuros em títulos do governo no valor de até $ 50 bilhões mudam de mãos diariamente. Em New York, $ 150 bilhões mudam de mãos diariamente com as compras e vendas de bônus do Tesouro.
Esses investimentos em tecnologia começaram a estabelecer uma rede incrivelmente complexa que liga quase todas as pessoas do mundo a todas as outras onde quer que haja dinheiro em jogo. Por exemplo, se você é assinante do Prodigy, o serviço de informações que pode ser acessado através de seu PC, você pode passar cheques, solicitar hipotecas e empréstimos, comprar e vender ações, obter análises de fundos de investimento e de ações, calcular taxas de juros, e ter seu crédito avaliado, tudo isso eletronicamente. O Prodigy, que é um serviço simples e fácil de usar, permite ao menos sofisticado usuário de computador participar de um sistema eletrônico.
Com um novo "telefone aperfeiçoado" do Citicorp (inaugurado em 1993), você pode fazer todas suas operações bancárias, pagar contas, fazer aplicações, e até comprar por catálogo, sem sair de casa. Você pode até mandar dinheiro para o exterior.
Com um programa Equalizer da Charles Schwab & Company instalado em seu PC, mais um modem, você está em condições de movimentar seu dinheiro de um fundo mútuo para outro e comprar e vender ações, moedas estrangeiras, commodities e até pagar suas contas. Independentemente dessas aplicações mais sofisticadas, estamos todos diariamente ligados à rede, de alguma forma.
Se você vai a um caixa eletrônico de banco, hoje, e aperta um botão, você entra instantaneamente numa rede global de incrível complexidade e como diriam seus criadores - elegância.
Quando você abastece o carro com cartão, num posto automatizado, você está comunicando-se com o mundo do dinheiro megabyte.
Quando o limite de seu cartão de crédito é aumentado, quando você solicita um empréstimo, liquida uma hipoteca, usa seu cartão de crédito, passa um cheque, você está ligado à rede.
Quando você faz uma compra no supermercado, você não apenas manda seu dinheiro para o sistema eletrônico, como, também, dá informações para o computador da loja para que alimentos sejam processados, caminhões sejam carregados e as prateleiras sejam automaticamente reabastecidas para substituir o que você comprou. Cada vez que você entra no infinito do espaço eletrônico megabyte, suas impressões digitais são gravadas, conferidas e guardadas. E todas suas transações no mundo do dinheiro, sejam elas grandes ou pequenas, são registradas no grande banco de dados do sistema.
O padrão megabyte mudou a vida dos administradores profissionais de carteiras de investimentos. A rede tomou suas funções mais semelhantes às de um matemático do que às de um analista de ações ou corretor de moedas.
Os bilhões gastos até agora também pagaram as salas de operação altamente informatizadas, onde homens e mulheres podem movimentar bilhões de dólares em poder de compra com um simples apertar de botão. Podem movimentar esse poder de compra em qualquer lugar do mundo e convertê-lo no que os operadores chamam de instrumentos e "produtos". Podem formar um pacote e emprestá-lo para financeiras, como Martin Sorrel em Londres, que o usou para comprar a J. Walter Thompson e dezenas de agências de propaganda menores em todo o mundo, ou para "aplicadores", figuras de caráter questionável, como o General Manuel Noriega, o líder preso do Panamá.
A rede também ajudou a criar "ambientes" de informação total, onde operadores, analistas, banqueiros, corretores, gerentes de carteiras de investimentos e estrategistas podem tomar conhecimento dos últimos eventos que acontecem em qualquer parte do mundo. Os clientes também podem "entrar" eletronicamente no ambiente para verificar como vão indo seus portifólios e avaliar suas estratégias de investimento. Esses ambientes são destinados a aumentar enormemente a velocidade das transações e, talvez principalmente, a proporcionar a operadores, investidores e gerentes de carteiras, condições de entender perfeitamente como a economia eletrônica está comportando-se segundo por segundo.
De acordo com Maurice Estabrooks, economista sênior do governo federal do Canadá e autor de Programized Capitalism, até a arquitetura é diferente na economia eletrônica: "A nova corretora informatizada assemelha-se a um salão de vídeo games, a um centro de controle de tráfico aéreo, a uma sala de controle de um centro espacial da Nasa ou à sala de guerra de um moderno centro militar."
Um dos novos ambientes de operações é o do Morgan Stanley Group Inc. em New York, que inclui um sistema de processamento de transações.
O Taps, da Morgan Stardey, cujo simples protótipo custou $ 25 milhões, executa transações quase instantaneamente e com grande precisão. Ele faz toda a papelada e registra cada transação para que os analistas, operadores, investidores e gerentes de carteiras possam mais tarde reconstituir os eventos para aperfeiçoar ainda mais o sistema.
Como ele aumenta a velocidade e precisão de cada transação, permite que os quants da firma façam mais transações por dia, aumentando suas possibilidades de ganhar (e também de perder) dinheiro e contribuindo para o aumento geral do volume de transações. Também aproxima ainda mais o mundo de um sistema de negociações automáticas contínuas e de mercados absolutamente eficientes - um conceito de mudança do mundo em que Adam Smith nunca poderia ter pensado mesmo em suas previsões mais imaginosas.
O que é interessante no Taps não é apenas seu custo e velocidade, mas também a maneira como é construído. O sistema usa dois computadores IBM 390 ligados entre si de tal maneira que os problemas podem ser divididos entre as duas máquinas simulando o modo de trabalhar dos supercomputadores de processamento paralelo.
O processamento paralelo está na vanguarda da criação de computadores. Esses sistemas podem fazer bilhões de cálculos por segundo e o objetivo é torná-los ainda mais rápidos. Hoje os fabricantes de máquinas de processamento paralelo estão tentando fazer máquinas que funcionem à velocidade chamada teraflop - um trilhão de cálculos por segundo. Uma máquina dessas poderia ler, assimilar e processar todo o conteúdo da Biblioteca do Congresso em poucos segundos.
Ao contrário dos supercomputadores convencionais, com um microprocessador rápido e complexo, os computadores de processamento paralelo são formados de dezenas e, às vezes, milhares de microprocessadores. Cada um deles, em si, já é um possante computador.
Não foi por acaso que quando, em novembro de 1991, a Thinking Machines Inc. apresentou o possante supercomputador CM-5, de uma geração à frente dos Taps e formado por até 16 mil microprocessadores, cada qual ligado a quatro chips de processamento matemático, as primeiras encomendas foram feitas pelos maiores centros científicos dos Estados Unidos: Los Alamos, Berkeley e o Centro de Supercomputadores da Universidade de Pittsburgh. Só houve uma exceção: a American Express Inc. encomendou dois CM-5 para seu setor de operações financeiras.
Entretanto, é mais difícil criar software para computadores de processamento paralelo do que para os convencionais. Num ambiente de processamento paralelo, como o da Morgan Stanley, o software tem que pegar um problema - por exemplo, a determinação da diferença média entre os preços das ações da IBM na Bolsa de New York e na de Londres e de Tóquio, minuto a minuto, durante a semana anterior - e decompô-lo em suas partes componentes. A "decomposição" tem que ser feita em poucos bilionésimos de segundo. Os componentes são chamados para diferentes microprocessadores, onde são "processados" individualmente. Depois disso, cada componente tem que ser remontado numa solução geral, inteligível - tudo dentro de bilionésimos de segundo. Esse é um grande desafio para os criadores de software.
Com os sistemas Taps de última geração, cada operador tem em sua mesa um terminal inteligente IBM 3270 ligado a um computador de grande porte. O sistema Taps - usado exclusivamente para negociar ações, bônus e moedas tem capacidade para atender a um grande laboratório de pesquisa de uma universidade. Tem capacidade suficiente para desenhar um avião e colocá-lo em funcionamento numa série complexa de simulações computadorizadas.
O Taps é, contudo, apenas o começo. A Morgan Stanley, geralmente considerada pioneira no desenvolvimento de novas tecnologias financeiras, também tem o que chama de Unidade Analítica. Este sistema de operação de alta tecnologia apoia e integra o trabalho de 26 pessoas - operadores, corretores, analistas e especialistas em computação. Entretanto, ao contrário do Taps, que só executa, confere e faz a papelada que o governo exige, a Unidade Analítica também dá conselho.
Ela tem embutido um "sistema especialista", um complexo programa que, em fração de segundos, faz avaliações sobre transações alternativas, o que levaria uma vida inteira para ser feito de outro modo. Os sistemas especialistas são trabalhosamente construídos a partir de entrevistas com especialistas da área cujos conhecimentos e processos de decisão são sintetizados e transformados num conjunto hierárquico de regras que os computadores podem seguir quando examinam e classificam toneladas de dados de "tempo real".
Processamento de tempo real significa que as regras dos sistemas especialistas são aplicadas a cada situação no momento em que ocorre, sem demora. O sistema especialista da Morgan tem aplicações para operações com câmbio, commodities, como ouro, prata, petróleo, futuros, e também ações e outros títulos.
Cada operador da Unidade Analítica tem terminais ligados diretamente ao sistema super dot da Bolsa de New York (dot é a sigla para designated order turnaround), que não passa pelos corretores da operadora que trabalham no pregão da bolsa, normalmente gritando seus pedidos e fazendo suas ofertas.
O super dot encaminha eletronicamente os pedidos diretamente do computador do cliente para os especialistas que ficam na bolsa e que compram e vendem as ações reais. As operadoras que usam o sistema super dot podem estar localizadas em qualquer parte do mundo. O sistema pode processar uma transação de até 30.099 ações de uma vez. Logo ele estará equipado para negociar 100.000 ações de uma só vez. E pode processar milhares de transações envolvendo milhões de ações por minuto. E o que é mais importante, o super dot opera com quase total precisão.
Acessando diretamente o sistema super dot, a Unidade Analítica pode fazer uma transação sem ter que esperar pelo corretor. Ela ainda requer, porém, o serviço de um especialista, uma peça antiquada (e potencialmente perigosa) da Bolsa de Valores de New York, como veremos mais tarde.
Ligar diretamente para um super dot é mais ou menos como fazer uma reserva num vôo sem passar pelo funcionário do serviço de reserva. O cliente mesmo olharia no computador da empresa aérea para escolher um lugar e pagar pelo bilhete. Com os computadores, as transações praticamente não tomam tempo nenhum, mas, sem dúvida, requerem julgamento.
Os computadores da Unidade Analítica também contêm um programa chamado Pac-Man que pondera constantemente os fatores que afetam o preço de cada ação e sinaliza para o operador o momento adequado de comprar ou de vender. A Unidade Analítica também gera complicados gráficos tridimensionais sobre ações, títulos e taxas de câmbio que dão indicações sobre o que o operador deve fazer. Para ler esses gráficos tridimensionais em cores, os operadores precisam de óculos especiais, como os usados para assistir aos filmes de terceira dimensão anos atrás, um dos acessórios mais bizarros da era da informação.
Como parte do ambiente de informação da nova economia eletrônica, os novos sistemas pernoitem que as transações continuem depois do fechamento dos mercados. Também tornam possíveis transações entre participantes localizados em todo o mundo. Um sistema chamado Instinet, de propriedade da Reuters, permite que as operadoras continuem a negociar depois que a Bolsa de Valores de New York fecha à noite. A taxa de inscrição no Instinet é de $ 1.000, e ele cobra de três a sete centavos por transação, mas expande o dia de trabalho para 24 horas. Atualmente, negocia cerca de oito milhões de ações por dia.
Com a Globex, um empreendimento conjunto da Reuters e da Bolsa Mercantil de Chicago, uma operadora também pode negociar contratos futuros de iene, títulos do Tesouro americano ou japonês, dólares, marcos ou futuros de ouro e contratos futuros de ações, 24 horas por dia, com participantes localizados em qualquer lugar do mundo.
A Globex não só permite a realização instantânea dessas transações como também as registra automaticamente e faz a papelada necessária.
O Instinet e a Globex são apenas duas das inúmeras bolsas de valores eletrônicas que fazem transações com ações, bônus e contratos de futuros e moedas a partir de um PC ou de um terminal em qualquer parte do mundo e a qualquer hora. Tem ainda a Soffex, a Swiss Options and Financial Futures Exchange (Bolsa Suíça de Opções e Futuros Financeiros). Tem a Fox, o sistema eletrônico da London Futures and Options Exchange (Bolsa de Futuros e Opções de Londres), e a New Zeland Futures Exchange (Bolsa de Futuros da Nova Zelândia). O sistema Cores é o Computer Assisted Order Routing and Execution da Bolsa de Valores de Tóquio. Tiffe é a Tokyo Intemational Financial Futures Exchange. Tse (Toronto Stock Exchange) é o sistema computadorizado da Bolsa de Valores de Toronto. Cats é o Computer Assisted Trading System, também de Toronto. O Auto-Ex é um sistema computadorizado para executar ordens de compra ou de venda na American Stock Exchange. Existe ainda o antigo Nasdaq, que remonta há 20 anos- é o National Association of Securities Dealers Automated Quotation, de New York. O Nasdaq pode ser acessado através do computador de qualquer parte do mundo e logo será conectado ao sistema Seaq, de Londres. Seaq é a sigla para Securities Exchange Automation Quotation.
Estão também em operação algumas bolsas particulares menores. Com o software adequado, essas bolsas podem ser acessadas através de PCs ou de terminais localizados em qualquer parte do mundo. Uma dessas bolsas - a Posit, dirigida por Jefferies & Company - permite ao investidor diminuir ou aumentar suas carteiras de títulos enquanto as bolsas maiores estão fechadas. Mais de três milhões de ações mudam de mãos diariamente pelo sistema Posit. Esse sistema visa atender aos grandes investidores - basicamente fundos de pensão e companhias de seguro -, que têm grandes estoques de títulos que querem negociar anonimamente ao menor custo possível. A Jefferies ainda possui outros sistemas privados de bolsa de valores.
Outro sistema, iniciado por Steven Wunsch, um conhecido alpinista e também operador, é chamado simplesmente de Was (Wiinsch Auction System). Nem todos os tipos de papéis podem ser negociados no Was, apenas ações de empresas inscritas no sistema. Até agora, dezenas de empresas já se inscreveram. Outra bolsa privada, chamada Spaworks, permite que os operadores façam transações algumas horas antes que a Bolsa de Valores de New York abra, aproveitando as mudanças ocorridas à noite.
Todo ano, novos sistemas desse tipo são acrescentados à infra-estrutura financeira mundial, mas talvez o mais importante é que todos esses sistemas estão ligados entre si.
Com a senha ou código adequado e a inscrição na rede, um operador ou gerente de carteira do, investimento tem acesso a um grande acúmulo de poder de compra em todo o mundo. Ele ou ela pode deixar esse poder de compra estabilizar-se um pouco e depois usá-lo para comprar milhares de produtos diferentes - ações, moedas, opções, bônus, e assim por diante -, esperando que seu poder de compra aumente a cada transação. Essa maneira de movimentar o dinheiro, através de programas adequados e de decisões certas, tomou muitos operadores incrivelmente ricos.
Adequadamente conduzida, a nova economia megabyte poderia ajudar a injetar capital onde ele fosse necessário, por meio da eletrônica e da automação. E levar o capital onde houvesse boas oportunidades de investimento. Nenhum empresário potencial com uma ratoeira melhor, um chip melhor de computador ou uma ótima batata frita ficaria sem capital para iniciar seu negócio. Um mercado quase perfeito, onde o dinheiro possa fluir à velocidade da luz, significaria que todo vendedor encontraria um comprador e que preços e valores se alinhariam. Se os mercados fossem tão eficientes quanto a tecnologia promete, o crescimento econômico, com certeza, se intensificaria. Esse, porém, é um grande ´se´.
Mercados eficientes não significam necessariamente mercados tranqüilos. Os gastos com tecnologia em Wall Street criaram um sistema altamente eficaz para movimentar grandes e pequenas unidades de poder de compra em todo o mundo. Entretanto, também criaram um sistema que, embora intrincado, despeja informações na mesa dos gerentes de carteiras de investimentos em quantidades impossíveis de serem assimiladas.
Talvez as coisas mudem no futuro, mas os sistemas especialistas de hoje ainda não são suficientes para livrar a mesa dos operadores desse excesso de informações confusas. Ainda não são capazes de se manter em dia com as transações que passam pelas linhas de comunicação e com os novos eventos ou mudanças na economia.
Consequentemente, os operadores ainda estão tateando. Estão oscilando de uma transação para a seguinte. Ainda estão buscando um cantinho no meio de um número cada vez maior de transações "médias" diárias com picos cada vez mais altos e vales cada vez mais profundos.
Um sistema tão sensível às variações de estado de ânimo do mundo também pode ser afetado pelo nervosismo. O padrão megabyte até certo ponto institucionalizou, em vez de diminuir, a volatilidade. E isso não só nos Estados Unidos, como também na Europa e no Japão.
Os preços de quase tudo estão instáveis desde o início da economia megabyte. Na última década, o valor do dólar em relação às principais moedas chegou ao dobro dos níveis da década de 70 e depois caiu para menos da metade do valor daquela época. Nesse mesmo período, os mercados de ações em todo o mundo tiveram altas, ficaram estáveis e depois despencaram a taxas nunca vistas. Ao mesmo tempo, as taxas de juros, que tinham permanecido estáveis durante décadas, subiram e baixaram como as marés. O valor dos imóveis, que sempre foram um paraíso de segurança da economia, também subiu e caiu como nunca. O mesmo aconteceu com a bolsa de mercadorias. Só na primeira metade do ano de 1991, o valor do dólar em relação ao marco alemão aumentou 50%. Depois, em julho daquele ano, o dólar perdeu valor em relação ao marco.
Esse sistema volátil aboliu a noção de "capital paciente." Com a ajuda de seu vasto e cada vez mais caro arsenal de tecnologia, Wall Street mudou a mentalidade do investidor. Nenhuma instituição, hoje, compra ações porque acredita na empresa que emitiu as ações. Ao contrário, com o toque de um botão e a ajuda de algumas fórmulas matemáticas, instituições como os estáveis fundos de pensão, companhias de seguro e fundos mútuos compram e vendem papéis e os mantêm por períodos de tempo cada vez mais curtos.
As regras que governam os fundos mútuos e fundos de pensão exigem que esses grandes acumuladores de poder de compra mantenham seu dinheiro aplicado em apenas um tipo de produto, como, por exemplo, moeda estrangeira ou ações. Devido a essas regras, os gerentes de carteira de investimento são forçados a comprar e vender com maior freqüência. Isto encurta ainda mais os horizontes de tempo de Wall Street e aumenta o potencial de volatilidade, porque o sistema é extremamente sensível. Parafraseando Lawrence H. Summers, que já foi da Harvard e agora é o economista-chefe do Banco Mundial, os mercados funcionam bem demais; como estão ligados entre si eletronicamente, não têm nenhum mecanismo para restringir a atividade financeira.
O novo padrão megabyte foi construído para tirar proveito das mínimas variações de preço - não apenas variações no preço de ações e títulos, como também no preço de qualquer coisa que possa ser trocada, comprada ou vendida. Foi criado para se obterem lucros com trocas que no passado teriam sido simplesmente ignoradas.
O novo sistema é diferente de tudo o que já existiu. As regras que regem o vasto mundo dos mercados de capitais são muito diferentes das regras que regem os outros setores. Consequentemente, o padrão megabyte contribuiu para o divórcio entre a economia concreta, "real", e a economia financeira, altamente abstrata, em que produtos financeiros são comprados e vendidos exclusivamente para se obter lucro financeiro.
O grau de separação entre essas duas economias está aumentando e a tecnologia está contribuindo para isso. Em termos práticos, a economia financeira mundial hoje é muitas vezes maior do que a economia real - de 30 a 50 vezes maior, de acordo com estimativas de Paul F. Glaser, do Citicorp. Isto significa que para cada dólar gasto num produto "real", digamos um martelo, uma tesoura, uma chave de fenda, um carro, urna garrafa de vinho, de $ 30 a $ 40 são gastos em uma ação, título, contrato de futuros ou apólice de seguro.
Com tal disparidade, a economia financeira de alta tecnologia, com sua ciclicalidade de altos e baixos e sua volatilidade diária, quase tomou conta da economia real. Para a humanidade como um todo, esta situação é nova e altamente incerta.

