A criação do dinheiro é uma coisa meio mágica. Nenhuma outra mercadoria se comporta da mesma forma. O suprimento de dinheiro cresce com o uso; expande-se por meio do endividamento. Quanto mais emprestarmos, mais teremos. E, seguindo esse raciocínio, enquanto o dinheiro se expande aproximadamente à mesma razão em que é usado, os preços permanecem relativamente estáveis e as taxas de juros permanecem baixas.
Mesmo a exigência de reserva, feita pelo Fed, que supostamente serve como uma apólice de seguro contra uma corrida aos bancos, diminui, mas não elimina, o crescimento do suprimento de dinheiro. À medida que o dinheiro é tomado emprestado dos bancos, sociedades de crédito ou instituições similares e emprestado de novo, seu suprimento, continua a crescer.
De fato, o suprimento de dinheiro diminui quando o Federal Reserve vende títulos no mercado, o que ele pode fazer em quantidades limitadas, ou quando os tomadores de dinheiro pagam seus empréstimos - mas não seus cartões de crédito. Quando você paga seus cartões de crédito, está transacionando com quase-dinheiro, que está sujeito a um conjunto diferente de regras.
Pense nos $ 100 originais, criados pelo Federal Reserve
e depositados no Banco A, depois no Banco B, e assim por diante.
Se todos esses clientes de repente liquidassem seus empréstimos,
isso criaria o desastre. Todo o novo dinheiro que fora criado pelo
sistema bancário - $ 343 , depois de apenas seis transações
mais o depósito original de $ 100 - seria repentinamente extinto;
deixaria de existir como ativo nos livros fiscais dos bancos. Só
sobrariam os $ 100 originais. E se as pessoas que venderam títulos
para o Federal Reserve os comprassem de volta, os $ 100 desapareceriam
também. Ninguém mais teria dinheiro para comprar nada.
Se todas as dívidas, públicas e privadas, fossem Liquidadas
de uma hora para outra, todo o comércio pararia. O dinheiro,
portanto, nasce como conseqüência do endividamento. Sem
um lastro em ouro ou outra commodity, o dinheiro não é uma
forma de patrimônio. Não é sequer um ,ativo real,
como um imóvel e uma ação. Ele é uma
abstração.
Existe também um componente internacional nesse negócio de criar dinheiro. Lembra-se de 1971? Naquela época, $ 300 bilhões foram depositados no sistema bancário internacional longe dos Estados Unidos. A maior parte desse dinheiro foi levada para fora, para financiar o envolvimento dos Estados Unidos na guerra fria.
Aquele dinheiro se converteu na solução supersaturada da qual foi criado o dinheiro megabyte. Foi, por assim dizer, a semente de capital que levou à criação de um suprimento autônomo de dinheiro, completamente fora do controle do Federal Reserve. Aqueles dólares expatriados foram chamados de eurodólar porque parte deles estava depositada em bancos europeus ou em filiais européias de bancos americanos e japoneses. Embora os eurodólares estivem vinculados a seus primos americanos, em geral preferiam viver no exterior. E embora esses dólares pudessem comprar produtos americanos sem ter que fazer nenhuma operação de câmbio - ao contrário do marco alemão, que tem que ser convertido em dólar para poder comprar um apartamento em New York ou um Cadillac Seville - a maior parte dos eurodólares tem sido usada exclusivamente como meio de bancar compras internacionais. As transações entre grandes empresas internacionais, inclusive as não americanas, são feitas em eurodólares. O mesmo acontece com as transações de commodities como petróleo, café, ouro, estanho, prata e outros.
Por mais de duas décadas, esses $ 300 bilhões em eurodólares têm dançado de um banco para outro. Têm sido emprestados e re-emprestados e emprestados de novo. A Ford da Europa toma emprestado esses dólares sem pátria quando emite seus títulos. O mesmo fazem a Volkswagen, a IBM, a General Motors, a Daimler-Benz, a Phillips, a Unilever, a Exxon, a Royal Dutch Shell e quase todas as outras companhias globais quando precisam de caixa.
Os governos de vários países também vêm tomando esse dinheiro emprestado. A Holanda e a França emitiram títulos em eurodólares. O mesmo fizeram a Espanha, Portugal e até a União Soviética. O Banco Mundial levanta empréstimos no mercado de eurodólares e o mesmo fazem os países em desenvolvimento para quem ele empresta, tais como Argentina, México e Brasil. Os empréstimos em eurodólar - um nome inadequado, uma vez que os eurodólares, há muito tempo não residem apenas na Europa - vêm crescendo rapidamente, por duas décadas. E os eurodólares, que nunca foram uma moeda física, sob a forma de papel ou de metal, mas simplesmente uma moeda eletrônica, também vêm crescendo.
Embora este dinheiro se submeta às mesmas regras
da criação e crescimento monetário que governa o Banco
A, o Banco B e o Banco C, existe uma diferença. Até
1987, esses dólares sem pátria representaram uma forma autônoma
de dinheiro completamente controlada pelo setor privado. Nenhum governo
regulamentava as transações internacionais nessa moeda.
Em conseqüência disso, esses dólares eram muito mais
livres do que seus primos americanos. Por exemplo, não havia
nenhuma obrigatoriedade de depósito em reserva de eurodólares.
(Em muitos países ainda não há.) Até 1987,
em quase todos os países, um banco que trabalhasse com eurodólares
podia emprestar 100% dos dólares que tivesse em depósitos.
Sem a obrigatoriedade de uma reserva, esses fundos poderiam crescer mais
rapidamente do que seus rivais americanos. E como cresceram em condições
tão favoráveis durante tanto tempo, os $ 300 bilhões
originais talvez valham hoje $ 1,5 trilhão ou talvez até
$ 2 trilhões. Além disso, as duas décadas de
grandes déficits comerciais dos Estados Unidos - particularmente
grandes no governo Reagan - mandaram outras toneladas de dólares
para o exterior.
De acordo com Robert Brittan, um economista internacional
da Salomon Brothers em New York, especializado em mercado de dólar,
não há mais como medir a quantidade de dinheiro existente
no mundo. Nem há como defini-lo. As antigas definições
do estoque de dinheiro, como M1 (todas as cédulas e moedas em poder
do público e todos os depósitos em conta corrente), M2 (M1
mais as contas de poupanças, as aplicações financeiras
e depósitos em eurodólares dos residentes do país)
e M3 (M2 mais depósitos a prazo e certos tipos de aplicações
financeiras) tomaram-se sem sentido, diz ele. Acrescente a essa confusão
os quase-dinheiros, os quase-dinheiros de curtíssimo prazo e os
novos produtos de quase-dinheiro, como linhas de crédito imobiliário
Depois acrescente o composto de transações quase-bancárias
das chamadas instituições não bancárias, como
a General Electric Credit Corporation, que empresta para pessoas físicas
e jurídicas, dinheiro levantado nos mercados de crédito doméstico
e internacional. Então, acrescente os efeitos da venda de
produtos domésticos, como hipotecas de casas, no mercado externo.
E, depois acrescente a tudo isso os mercados de capitais mundiais têm
sobre o estoque de dinheiro. Logo, ficará claro que é
quase impossível calcular a quantidade de dinheiro em circulação.
Não só somos incapazes de definir e medir o volume do
estoque de dinheiro, como também somos incapazes de calcular o número
de vezes que cada dólar circular por ano. Este número,
chamado velocidade, é parte do que Brittan chama de problema geral
de medição.
Problemas de medição à parte, o mercado do eurodólar
é imenso. Entretanto, não é só isso.
Desde 1971, bilhões de ienes, marcos e libras também se transformam
em euromoedas sem pátria. Tão vasto é o mercado
de capitais, que as empresas hoje podem livremente tomar empréstimos
na moeda que quiser em qualquer parte do mundo.
O Federal Reserve ainda figura neste composto global de moedas internacionais. Contudo, o poder do Fed não só sobre o volume do estoque de dinheiro de alavanca -, como também sobre as pequenas alavancas está muito reduzido. Considere, por exemplo, quantos bônus o Fed teria que vender para tirar $ 500 bilhões do estoque doméstico e de eurodólares. Se, porém, o dinheiro restante continuasse sendo emprestado e re-emprestado, $ 500 bilhões a que o Fed aspirou logo seriam substituídos, à medida bancos do mundo fossem fazendo suas operações de empréstimos. E que o Fed tentasse colocar esses bônus no mercado, num esforço para reduzir o tamanho do estoque de dinheiro, ele teria condições de vender tantos bônus? Que taxa de juros teria que oferecer para tirar tanto dinheiro do sistema mundial? As taxas teriam que ser suficientemente altas para tirar o dinheiro dos bancos e de outros investimentos. Os prazos precisariam ser suficientemente atraentes para tirar os aplicadores de outros investimentos, tais como hipotecas. Se o Fed tentasse livrar o sistema do excesso de dinheiro, ele teria um trabalho considerável pela frente. Um trabalho talvez muito além de sua capacidade.
Naturalmente, o Fed, juntamente com seus congêneres pelo mundo afora, por regulamentações rígidas sobre o sistema bancário mundial. Poderia exigir depósitos compulsórios maiores e capital maior dos bancos. Os bancos centrais de todo o mundo poderiam tentar exercer o controle. Entretanto, o Fed e seus equivalentes levaram 16 anos, de 1971 até dezembro de 1987, impor alguma obrigatoriedade de reserva e de capital sobre o mercado de dólares. Foi quando os presidentes dos bancos centrais do mundo se reuniram em Basel, Suíça, e fizeram um acordo sobre os padrões globais de reserva. É improvável que, sem um desastre financeiro de proporções, esses banqueiros se reunam de novo num esforço de encurtar as rédeas. Se o fizerem, porém, é improvável que os bancos centrais de todo o mundo juntos tenham poder suficiente para ir contra os desejos deste vasto mercado privado.
Afinal de contas, o que o Fed e seus equivalentes pelo mundo afora podem fazer agora para controlar o valor do dólar em relação às outras moedas? Não muito. Os presidentes podem reunir-se, podem ser fotografados juntos, falar duro, mas nem juntos têm mais o poder para ir contra os desejos de um mercado de moedas que transaciona $ 800 bilhões por dia. Nem suas vendas de títulos podem ter muita repercussão, quando o mundo negocia $ 150 bilhões em bônus do Tesouro por dia, só em New York.
Allen Meltzer provavelmente sabe mais sobre o Fed do que qualquer outro economista. Meltzer, professor de economia da Universidade de Pittsburgh, é um monetarista por excelência. Acredita que a qualidade do dinheiro determina os preços e ponto final. Meltzer também é presidente do Shadow Fed1, um grupo idiossincrático, se é que algum dia ele constituiu um grupo. O Shadow Fed é composto por economistas acadêmicos e do sistema bancário. Jeny Jordan, que agora é diretor do verdadeiro Fed, foi membro do grupo quando era economista-chefe do First Interstate Bankcorp of California. Mickey Levy, economista-chefe da CRT Government Securities, também é membro do Shadow Fed, juntamente com vários acadêmicos.
Nas ocasiões em que o Open Market Committe do verdadeiro
Fed se reúne para decidir se deve baixar ou elevar as taxas de juros
e se deve aumentar ou diminuir a quantidade de dinheiro em circulação,
o Shadow Fed reúne-se para discutir essas mesmas questões.
As duas reuniões, em geral, acontecem em Washington, D.C. O Fed
verdadeiro reúne-se secretamente e leva um mês para divulgar
suas notas. Isto deixa Wall Street, os bancos e os mercados financeiros
mundiais tentando adivinhar o que vai acontecer com a economia. A
teoria que está por trás do sigilo do Fed é de que,
se as minutas fossem divulgadas imediatamente, o ritmo das atividades econômicas
e financeiras cairia antes de sua divulgação, especialmente
se vazasse a informação de que o Fed estava discutindo uma
mudança nas taxas de juros. Por diversas razões, esta
teoria é falha.
1. Sombra do Fed. (N.T.)
O Shadow Fed, que não tem nenhum poder, divulga suas notas imediatamente.
Como reeditores da Guerra Civil, a comissão do Shadow Fed trava as mesmas batalhas que o Fed, interpretando os mesmos dados que o Fed verdadeiro interpreta. Examina as taxas de juros, o dinheiro em circulação, a velocidade com que esse dinheiro circula, o comportamento dos mercados, a estabilidade de preços e uma ampla gama de informações relacionadas, como desemprego, encomendas das fábricas, nível de endividamento dos consumidores, vendas de automóveis, índice de construção de moradia, e assim por diante. E, o que talvez seja mais importante, o Shadow Fed examina esses indicadores de uma perspectiva politicamente neutra, um luxo que resulta de sua absoluta falta de poder.
Por mais de 20 anos esse grupo vem reunindo-se e realizando seu exercício. Essas reuniões têm-lhe trazido uma grande quantidade de experiência.
Meltzer, que pertence ao Shadow Fed desde sua fundação, também sabe muito a respeito de outros bancos centrais. Em sua opinião, mesmo que todos os bancos centrais do mundo se juntassem, só conseguiriam controlar uma parte dos $ 800 bilhões que os mercados privados negociam diariamente - o que não daria para mudar a direção do fluxo. E coordenar as ações dos bancos seria difícil, uma vez que cada um tem sua agenda e trabalha para os objetivos de seu próprio país. Por exemplo, nos primeiros três meses do ano de 1992, o Bundesbank da Alemanha elevou suas taxas de juros apesar dos pedidos do Secretário do Tesouro, Nicholas F. Brady, do Secretário de Estado James A. Baker III, e dos ministros das finanças da França, da Grã-Bretanha e da Suécia. A Alemanha estava preocupada com a inflação, enquanto os outros países estavam preocupados com recessão.
Se, porém, os bancos centrais do mundo pudessem juntar-se, só poderiam negociar cerca de $ 14 bilhões por dia, diz Meltzer. E teriam que se arriscar a perder esse dinheiro, como os particulares se arriscam. Se corressem para criar dinheiro novo para pagar seus prejuízos, correriam o risco de pressionar os preços para cima.
Os presidentes dos bancos centrais são políticos. São nomeados por parlamentos e congressos. Prestam contas a presidentes e primeiros-ministros. Se perdessem os $ 14 bilhões que poderiam negociar, teriam que justificar o prejuízo perante seus chefes. E enquanto explicassem suas perdas, o mercado continuaria a negociar, exatamente como faz todos os dias. Em conseqüência, os bancos centrais, embora não sejam tão sem poder quanto o Shadow Fed, também têm suas limitações. A maior delas, de acordo com Meltzer, é que não têm poder suficiente para ir contra a vontade do mercado.
Entretanto, se o Fed se juntasse não apenas aos
outros bancos centrais do mundo, mas também ao poderoso Departamento
do Tesouro dos Estados Unidos? Nem isso daria ao Fed o poder suficiente
para movimentar os mercados, diz Meltzer. O dinheiro movimenta os
mercados - $ 800 bilhões por dia. O Tesouro, embora cheio
de empáfia e de política, não tem dinheiro suficiente.
Os recursos do governo são muito escassos para movimentar os gigantescos
mercados globais. Meltzer estima que o Tesouro tem em mãos
entre $ 100 e US$ 300 milhões apenas: gotas d'água em comparação
com o oceano de recursos controlados pelos operadores eletrônicos.
Embora o Federal Reserve ainda possa aumentar ou baixar as taxas de juros de curto prazo, tem cada vez menos poder de afetar as taxas de longo prazo, que são estabelecidas pelos mercados. Ele pode alterar as regras de funcionamento dos bancos e endurecer ou relaxar algumas regulamentações, mas só se o Congresso concordar e os bancos simplesmente não levarem suas operações para o exterior, para um lugar onde as regras sejam mais hospitaleiras. O Fed ainda pode forçar bancos que não estão em boas condições a se fundirem e pode fazer empréstimos de emergência para manter em funcionamento os bancos que estão fracos. E, naturalmente, continua tendo autoridade moral. Contudo, como uma instituição, como um banco central - o Fed não é mais uma potência. O dinheiro há muito tempo escapou de seu controle.
Entretanto, nem todos os bancos centrais do mundo compreendem
esse recado, ou pelo menos é o que acha o ex-chanceler alemão
Helmut Schmidt. “Todos os bancos centrais do mundo estão subestimando
certos fatores novos”, disse Schmidt. “Em primeiro lugar, não
perceberam que estavam perdendo o controle sobre os mercados quando permitiram
que os bancos comerciais estabelecessem filiais no exterior. Segundo,
não perceberam que a chamada reciclagem de petrodólares,
ou rolagem dos créditos a cada três meses, estava gerando
o que hoje se chama de crise da dívida. Em terceiro lugar,
não notaram e não impediram o surgimento de todos esses novos
instrumentos financeiros que tornaram os mercados financeiros internacionais
quase incontroláveis. Em quarto lugar, apesar do que pensam
uns sobre os outros, não estão trabalhando em cooperação
suficientemente estreita para impedir a internacionalizarão dos
fluxos financeiros sem que exista um órgão controlador internacional.
Hoje, temos uma bolsa de valores mundial. Ninguém a está
controlando. Temos um mercado de capitais mundial. Ninguém
o está controlando. Os bancos centrais ainda estão
vivendo no mundo dos anos 70 e, alguns, nos anos 60”, disse ele.
O Federal Reserve foi substituído por uma vasta ““Comuna”” eletrônica que, embora tenha sido semeada pela contribuição inicial americana de $ 300 bilhões, hoje é altamente independente e autônoma. Seus recursos chegam onde forem necessários e vagam pelo mundo constantemente. Movimentam-se de um mercado para outro e são transformados de um produto em outro. Esta Vasta comuna eletrônica “tornou-se o banco central do mundo,” disse Madis Senner, um corretor de moeda do Chase Manhattan Bank em New York.
Não se trata de dinheiro como nós o entendíamos. O dinheiro megabyte, sob o padrão eletrônico, é, como diz o francês, uma ficha ou um marcador. Ele pode começar o dia como dólar, viajar pelos mercados cambiais de Londres, aparecer como marco alemão ao meio-dia e acabar em Chicago, à tarde, como um contrato de opção sobre um índice de 500 ações. O que determina em que esse dinheiro se transforma é a taxa de retomo que ele pode pagar a seu proprietário. Trilhões dessas fichas circulam pelas comunas eletrônicas do mundo dia e noite e estão passando por transformações de grande escala.
Em certo sentido, estamos, na realidade, lidando com um conceito abstrato chamado “poder de compra”. Instrumentos - dólares, ienes, marcos, ações, títulos e outros - são métodos para acumular, estocar e manipular esse poder de compra. Os computadores, alimentados com programas que, por sua vez, são repletos de equações matemáticas complexas - algumas das quais até valeram um Prêmio Nobel para seus criadores -, dizem aos operadores para onde mudar suas fichas para alcançar a maior taxa de retorno. Os operadores seguem os conselhos do computador, mudando suas fichas para as casas do tabuleiro onde o poder de compra se expande ou contrai. As taxas de juros são um importante determinante de onde os computadores mandam colocar o dinheiro Oportunidade de arbitragem - que significa o lucro que pode ser obtido com a compra de um produto a uma taxa de câmbio e sua venda, talvez até simultaneamente, a outra taxa de câmbio - é outro determinante. Outras oportunidades de transações também determinam para onde mudar as fichas.
De acordo com Robert Brittan, da Salomon Brothers, é a tecnologia, que inclui o software e os computadores, que dirige os lucros nesses mercados.
Trilhões e trilhões de dólares, marcos,
ienes e libras viajam diariamente através das comunas eletrônicas,
numa interminável dança de formas mutantes. Todo esse
dinheiro está procurando apenas uma coisa: aumentar seu poder de
compra, lutar contra a entropia das finanças, ou seja, a tendência
das moedas megabyte de perder seu poder de compra.
Com todos esses dólares em circulação, o que determina seu valor? “Os indicadores-chaves que eu vejo”, diz R. David Ranson, da Wainwright Economics, “são a confiança e as taxas de juros. Em outras palavras, o preço do dinheiro”. A medida tomada por Nixon criou um sistema estranho, em que as taxas de juros determinam o valor do dólar e não o contrário.
Esse é, contudo, o sistema que temos agora. Na realidade, esse é o único sistema que poderíamos ter, uma vez que o tamanho da economia financeira e suas necessidades de grandes retornos - ultrapassou muito o tamanho da economia real. É o único sistema que poderíamos ter, uma vez que os empréstimos e outras atividades do sistema bancário privado, praticamente sozinhos, determinam a velocidade de crescimento do estoque de dinheiro.
Se as taxas de juros, juntamente com a confiança nos Estados Unidos como um todo, são os principais fatores determinantes do valor do dólar, o que isso tem a ver, por exemplo, com o preço das commodities? De acordo com Graciella Chilchiniski, professora de economia da Universidade de Columbia, que estabeleceu um modelo matemático para a demanda mundial do petróleo, as taxas de juros - e não a demanda - é que determinam, hoje, o preço do petróleo e de outras commodities.
As taxas de juros determinam os preços do petróleo “porque os investidores precisam de uma taxa de retomo para seus investimentos em petróleo comparável à taxa de retorno que obteriam aplicando seu dinheiro num investimento financeiro qualquer”, disse Chilchiniski numa entrevista em New York. “Se eles alcançam melhor taxa de retomo emprestando dinheiro para empresas do que explorando petróleo, o petróleo simplesmente continuará esperando no solo ou seu preço subirá para torná-lo atraente para os investidores do mercado financeiro.”
Ao abandonar o padrão ouro, Nixon multiplicou o tamanho da economia financeira várias vezes. Ele também levou o mundo para um novo padrão: o padrão taxa de juros. Deste ponto de vista, todo investimento, financeiro ou real, tem um único parâmetro: as taxas de juros. E todos os investidores têm um único objetivo: ganhar mais do que o custo do dinheiro.
Em países com altas taxas de juros - Estados Unidos,
Canadá e Grã-Bretanha, as empresas têm sido forçadas
a abandonar os investimentos de longo prazo e baixa taxa de retomo, como
fabricação de produtos, em favor das finanças, para
conseguirem retornos suficientes. Em países com baixas taxas
de juros, como Alemanha e Japão, a fabricação e produção
de bens reais ainda traz uma taxa de retomo suficiente. E, enquanto
os países com baixas taxas de juros têm fábricas que
produzem bens, os países com altas taxas de juros, como, por exemplo,
os Estados Unidos, só ficam com as dívidas.

