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As linguas antigas da Ibéria |
As Línguas da Ibéria Pré-romana
Introdução
A Hispania pré-romana remonta a uma era em que ainda lá habitavam povos que lá aportaram antes da expansão dos indo-europeus pela Europa e Ásia.
Essas gentes deixaram um corpo de inscrições em uma ou mais línguas ainda não decifradas, faladas. No sudoeste, principalmente no Algarve e na região entre a Extremadura e baixo Gadalquivir, foram encontradas 74 inscrições datadas dos séculos VII a.C. ou VI a.C.
Elas são escritas sem separação de palavras. No final, às vezes, se encontra uma fórmula representada por um nome seguido de uma expressão, que pode ser algo como "aqui jaz".
Eis algumas:
| a | Pa.a.r.e n.a.Pe. Ce.e.n.i.i / Ce.e.n.Ti.i / Ce.e.Ti.i / Ce.e.n.a.i. |
| b | a.Co.o.s.i.o.s |
| c | l.o.Co.o.Po.o/ n.i.i.a.r.a.Po.o |
| d | o.o.S60.o.i.r. n.a.S60....Ce.e.n.Pi.i. |
| e | -ir, -on, -te.e, -na, el-, -e. |
Alguns cientistas acreditam que os nomes nas inscrições sejam indo-europeus, mas talvez apenas algumas relacionadas com Acco e seus derivados (b ) podem sê-lo. Em (c ) se poderia reconhecer um dativo de Lug (deus celta), identificando, se verdadeiro o reconhecimento, uma lápide votiva àquele deus. Mas Lug aparece sempre com temas em u e não em o.
Em uma das inscrições (a), reconheceram um tipo anatólio (Ceenii) e tipos indo-europeus: ceenti e ceetii seriam, respectivamente, a pessoa do plural e do singular do verbo kei (jazer). O linguista Hoz vê em (d ) desinências onomásticas que afastam essa língua do ramo indo-europeu.
O prof. Rodríguez Adrado defende que o etrusco é uma língua indo-européia de aspecto anatólio e já foi encontrada cerâmica micênica em Montoro, CO.
No sudoeste (alto Guadalquivir e Andaluzia Oriental) há um outro tipo de escrita, com diversas variações, usadas em moedas, grafitis e vasilhas de prata mais modernas, datadas dos séculos IV a.C. a II a.C.
| f | Giribaile (J): biuniusen (cf. ibérico *biur-nius). Cástulo: sosi (Cf. ibérico sosin) | ||||
| g | Fuensanta de Martos (J): kaskauketiu; Torres (J): kananike
kitirokian?; Santiago de la Espada: aibon?;
Santisteban-Perotito (J): tercinoi eguan oasali (oasai f. sg. Untermann; letras latinas); Inscrição de Cástulo:
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| h | Étnicos do tipo urke-sken (cf. Urci), ikale-sken (por Albacete). NNP numismáticos em Obulco: iltiratin, iltireur, urkailtu, iskertain, etc. |
Em Oretania, inscrições têm um aspecto ibérico (f e h ). O prof. Tovar crê ser indo-europeu o verbete oasai (genitivo, em g). Já Aunin (também em g) é um nome ibérico feminino. Os outros nomes próprios não são ibéricos, nem a palavra castlosaic (castulonense, outra vez em g).
Pergunta-se se esses dois modos de expressão teriam algo a ver com os tartessos, povo que habitava as províncias de Cádiz e Huelva, ou, ainda, se um deles seria tartesso. O Oretania era a região limítrofe entre os dois grupos culturais.
A Toponímia
A toponímia hoje conhecida nos foi transmitida pelas fontes clássicas. Esses nomes foram substituídos por outros formados com os termos ili - (povoação) e -briga (povoado fortificado). Tais como:
| i | em ipo- e -oba: tais como Olissippo e Colippo (Portugal) e Maenuba (GR). É também o caso de Mainobora de Hecateo (século VI a.C.). Topônimos em -(t)urgi, -ci (tais como Ceturgi, Lacimurgi, Saltigi, Astigi). |
Os topônimos em -briga e ili- são mais recentes que os nomes em -oba e ipo- e em -urgi/-urci e, ainda, em -ci. É possível que exista algum tipo de relação mais ou menos mediada entre esses últimos e os antropônimos derivados de Att-, Broccus, Sis-, Ins- etc.
A Antroponímia
Os nomes próprios, transmitidos por igual via, mostra grande coerência na antroponímia indo-européia.
| j |
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| k | CROVGIN / TOVDA / DIGOE / RVFONIA / SEVERI (Inscrição latina de Xinzo de Limia, OR. Crougin é acusativo singular de tema em a, está em irl. e no Plomo de Larzac. Se deve ler Crougae Toudadigoe) | ||||||
| l | SACRVM LVCOVBV ARQVIEN SILONIVS SILO EX VOTO (Para Tovar, Silo é genitivo singular celtibérico). | ||||||
| m | .../ LICVIAMI / G. MONIM. / AM (=]lic(um) Viami g. monimam) (Viami em celtibero teria que ser Viamo -genitivo; mas se poderia ler Viamigum). | ||||||
| n | Medugenus, -a, Rectugenus, Belligenos, Sangenus | ||||||
| o | Corogenus (Bragança), Deocena (Miranda do Douro), Matugenus (2 em Villalcampo, ZA, 1 em Bragança [nascido do urso?]), Medugena (Fariza, ZA), Vibogenus (Fresnadillo, ZA). | ||||||
| p | Astures e galaicos: Abienus (Zoelas), Arrenus, -a (Castillo de Alba, ZA, Bragança), Bloena (4 em Portugal), Bulenus (3 em LU), Casiena (Escuadro, ZA), Catuenus (Freixo de Numão y Zamora), Ibdoena (Lamego), Iboena (Carquere), Laboena (Pinovelho), Meiduenus (Lamego), Meiduena (Cea de Órbigo), Urtienus (Limicus), Cilenus (Braga). Lusitanos: Arena, Amaenea, Erguena, Arreini (genitivo), Ebureini (genitivo), Meiduenius, Catuenus, Celtienus, etc. | ||||||
| q | Abisunhari (dativo, Lerga, NA), Naru./.eni (dativo feminino, Sofuentes, Z) | ||||||
| r | L.sanharis (genitivo, Lerga, NA), Serhuhoris (genitivo, Valpalmas, Z), Ummesahar (Lerga) |
Há grupos celtibéricos com os arévacos, vacceos, carpetanos, cântabros-alaveses, astur-galaicos, lusitano-vetão (ambos nas inscrições p) e celtibéricos. Estes três últimos com matizes próprias (como Ambatus , um nome encontrado até o norte).
O lusitano é ainda mal conhecido (há três inscrições, sendo uma hoje perdida) e não era uma língua celta, embora pressionado pela vizinhança dessa etnia. Muitos nomes em genus são claramente de origem celta (n e o ).
Por outro lado, há antropônimos muito antigos que não são ibéricos nem indo-europeus (j).
A Teonímia
A teonímia ocidental (s), região entre o Tejo/Tajo, Orense e Pontevedra, acima da linha Orense-Mérida (a Galécia Lucense), apresenta alguns nomes celtas e outros bastante estranhos (u). É possível que nessa região houvesse uma ou mais línguas indo-européias que, embora não fossem celtas, tivessem influência dessa etnia.
| s | COSSVE e variantes (Cossu, Cossou), BANDVE, REVE, NABIAE, TREBARVNE, TOGAE. |
| t | Sinoga, LU: Lucubou Arquien.; S. Martín de Liñarán (Sober, LU): Lucubo Arquinob.; S. Vicente de Castillones (Monforte de Lemos, LU): [Lucub]u Arqienis. |
| u | Lugo: Laho; Friol e Paradela: Cohvetene; Lugo: Virrore, Verore. |
| v | Losae (Lerate e Cirauqui), Loxae (Arguiñániz), Errensae (Larraga), Larrahi (Muruzábal). |
Outras inscrições são menos compreensíveis, como:
| x | Origem ibérica e grafia basca. Or[du]netsi (Muez), Urchatetelli (Muruzábal), Larrahi (Muruzábal). |
| y | Mesclada: L.i.ki.n.e / a.bu.l.o.r.a.u.n.e./e.ki.e.n./bi.l.bi.l.i.a.r.s. (em Ándelos. Inscrição musivaria sobre opus signinum, com r celtibera. A única empregada na Celtibéria das duas do signário ibérico) |
| z | AR[../..]THAR, LESVRIDANTARIS (gen.), OANDISSEN[..., ARANCISIS (gen.), SERGIA |
| w | (nominativo feminino), AGIRSENI (genitivo) (Zona de Cidacos e alto Linares, SO. Não está claro o seu iberismo). |
Fontes:
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Administrador: Marco Polo Teixeira Dutra Phenee Silva