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Biografia

TEXTO RETIRADO DA REVISTA BLIZZ 11/91

A história dos Doors se confunde com a de seu vocalista/letrista/mentor. James Douglas Morrison nasceu no dia 8 de Dezembro de 43, na cidade de Melbourne, na Flórida. A profissão do pai - oficial da Marinha - teve influência decisiva em sua formação. As constantes mudanças de cidade fizeram do pequeno Jim uma criança tímida, retraída de poucos amigos. Além disso, a rígida disciplina quase militar imposta pelo pai gerou um ódio incontrolável pelas autoridades, que mais tarde se cristalizava nos textos e atitudes do cantor.

Pelo menos uma lembrança dos primeiros anos de vida ficou marcado para sempre na memória de Jim: na estrada, um grupo de índios feridos esperando socorro ao lado de um caminhão capotado, enquanto o pai se distancia. A história seria repetida muitas vezes em textos ou conversas com os amigos: naquele dia, um dos índios havia morrido, e sua alma passado para o corpo de Jim.

Inteligente, charmoso e agressivo: na escola, já se delineavam algum dos traços básicos da personalidade do garoto, capaz de encantar os professores com suas belas notas e seu talento para a escrita, ao mesmo tempo que atormentava amigos e namoradas com brincadeiras cruéis para um adolescente.

A partir dos catorze anos, os cadernos de anotações passaram a ser companhia constante para Jim. Nascia o escritor James Douglas Morrison, um apaixonado por literatura capaz de passar fome pra comprar seus livros (na época, seu preferido era On the Road, de Jack Kerouac). O próprio Jim destruiu esses cadernos, mas um dos poemas sobreviveu: "Horses Latitudes" .

A decisão de estudar cinema na UCLA (Universidade da Califórnia) não agradou nem um pouco os seus pais, que tentavam em vão lutar contra a aparência desleixada e seu comportamento agressivo (já então regado a grandes quantidades de álcool). Na faculdade, ele faria poucos amigos - entre eles, Dennis Jakob, com quem planejou sua entrada no mundo do rock’n’roll. A idéia era formar uma dupla com o nome The Doors: Open And Closed, inspirados em dois versos de William Blake.

O projeto acabou ficando apenas no papel. Duas semanas antes do final do curso, Jim abandonou a Faculdade - não por acaso, logo após ter enfrentado o desprezo dos colegas e professores pelo seu curta de dezesseis minutos produzidos para os exames finais.

Em 65, ele era apenas um desocupado que vagava horas a fio pela praia viajando de ácido e alimentando em segredo o desejo de cantar numa banda. Foi em agosto desse ano que o desejo começou a tomar forma. Ao encontrar na praia, um ex-colega da faculdade, Jim cantou para ele um trecho de uma de suas composições, "Moonlight Drive". Em 65, ele era apenas um desocupado que vagava horas a fio pela praia viajando de ácido e alimentando em segredo o desejo de cantar numa banda. Foi em agosto desse ano que o desejo começou a tomar forma.  
Ao encontrar na praia, um ex-colega da faculdade, Jim cantou para ele um trecho de uma de suas composições, "Moonlight Drive".  

Raymond Daniel Manzarek

"Essa é a letra mais sensacional que eu já ouvi. Vamos fundar uma banda e ganhar um milhão de dólares." Raymond Daniel Manzarek, um ex-estudante de piano clássico fissurado em blues, dava o empurrão que faltava para que o sonho se tornasse realidade.

Jim e Ray passaram a morar juntos, compondo sem parar. Ainda em 65, chamariam para a banda o baterista John Paul Densmore e o guitarrista Robert Alan Krieger - ambos colegas de Ray no centro de Meditação do Maharish Yogi. Depois de vários testes infrutíferos para encontrar um baixista, Ray achou uma solução: ele mesmo faria as linhas de baixo, usando para isso um piano elétrico Fender.

Rejeitados por quase todas as gravadoras, os Doors acabariam conseguindo um contrato com a Columbia no início de 66 - ao mesmo tempo que iniciavam uma temporada numa pequena casa noturna de Los Angeles.

John Paul Densmore

 
Se a gravadora não fez muito pelo grupo, os shows servirão para que eles fossem visto por um agenciador do Whiskey-A-Go-Go (uma das mais importantes casas noturnas de Los Angeles), que os contratou imediatamente

Bêbados ou chapados (especialmente Jim), os Doors eram freqüentemente obrigados a interromper as apresentações, ou prosseguir sem o vocalista. Ainda assim, eram capazes de performances fabulosas - a ponto de impressionar o presidente do selo Elektra, Jac Holzman, que se dispôs a contratá-los depois de assistir a um desses shows. Alguns dias depois, o grupo seria expulso do Whiskey. Motivo: a primeira execução, ao vivo, dos versos edipianos de "The End"...

Robert Alan Krieger

 

Longe dos palcos, eles iniciaram em setembro de 66, as gravações do primeiro LP. No estúdio drogas e a bebida voltavam a se colocar entre o Jim e o grupo, dificultando as gravações. Apesar disso, Paul Rothchild, produtor do grupo, conseguiu que o disco fosse registrado em apenas duas semanas.

Lançados ás portas do "Verão do Amor" de 67, em pleno clima de flower power e "paz e amor", o primeiro LP dos Doors parecia um corpo estranho, se dúvida agressivo demais para a sua época. Ainda assim, o sucesso foi rápido. Com o segundo single, "Light my Fire", o grupo chegou ao primeiro posto da parada norte-americana. Logo o LP repetiria o feito, preparando o terreno para a primeira turnê norte-americana. Não demorou pra que a imagem sexy/rebelde de Jim conquistasse os Estados Unidos. Em poucos meses, o líder do Doors - "a resposta norte-americana aos Beatles e aos Stones" - era elevado à categoria de Mito.

O segundo disco Strange Days, lançado também em 67, consolidou a posição do grupo com mais dois Hits: "People are Strange" e "Love me Two Times". Estava lá também o segundo épico, sucessor de "The End": "When the Music is Over", um dos clássicos de Morrison.

Os planos de Jim para o terceiro LP eram bastante arrojados: seria um duplo, com todo um lado tomado pela suíte "The Celebration of Lizard" ( a composição em que se anunciava como o "Rei Lagarto"). Nem os outros Doors, nem o produtor gostaram dos resultados das primeiras gravações. A solução foi recorrer as velhas composições - entre elas, "Hello, I Love You", que chegou ao topo das paradas. ("The Celebration of Lizard", em sua versão integral, acabaria aparecendo apenas em Absoluly Live, lançado em 70). Waiting for the Sun trazia a polêmica "Unkown Soldier" - que, mesmo boicotadas pelas rádios e com seu clipe censurado, acabou entrando no Top 40 norte-americano em 68.

Neste mesmo ano , o Rei Lagarto - ou Mr. Mojo Risin’, como também gostava de se chamar - enfrentou seu primeiro confronto sério com as autoridades. Depois de ridicularizar a atuação dos policiais num show em Newhaven, Connecticut (um deles havia jogado gás lacrimogêneo no cantor ao flagrá-lo com uma garota nos bastidores), acabou preso em pleno palco.

As atitudes incendiárias de Jim nas apresentações da banda teriam conseqüências ainda mais graves. No dia 3 de Janeiro de 69, num show em Miami, Jim abaixou as calças e simulou masturbação. No dia seguinte, uma ordem de prisão era expedida contra ele, por "comportamento obsceno, exibicionismo, linguagem obscena e bebedeira".

Apesar de não trazer problemas legais imediatos para o cantor, o "caso Miami" passaria a dificultar a trajetória da banda - com constantes cancelamentos de shows - e a vida de Jim - obrigado a repetidos encontros com a polícia (para ele, um verdadeiro suplício).

Soft Parade (69), além de massacrado pela crítica, não teve o sucesso dos disco anteriores. Em compensação, Jim pôde finalmente comemorar o lançamento, em edição limitada de dois livros seus: The Lords e The New Creature. Apresentava-se cada vez mais o dilema: continuar a carreira de rock star/sex simbol, da qual já estava cheio, ou optar definitivamente pela poesia ?

Os Doors voltariam a receber elogios rasgados da crítica com Morisson Hotel, considerado uma volta ao rigor inicial da banda. Apesar disso, o disco vendeu pouco e os shows continuavam sendo cancelados. Pior ainda: o "caso Miami" chegou ao fim, com Jim condenado a seis meses de prisão (pena cumprida em liberdade) por profanação em público e exposição indecente. Tudo isso fez que ele se afundasse ainda mais nas drogas, atravessando longos períodos de depressão.

L.A . Woman (71) tinha um conceito bem definido. Jim, finalmente, realizava seu sonho de fazer um disco todo de Blues. Mas não foi o suficiente para prendê-lo no estúdio: antes mesmo do término das gravações, o cantor resolveu viajar para Paris, onde planejava morar com sua namorada, Pamela Courson.

O último LP do contrato de cinco anos que o grupo firmara com a Elektra teve um desempenho apenas razoável. Mais do que nunca, o futuro dos Doors era incerto. Sem contrato e sem vocalista, os três esperaram que Jim resolvesse de uma vez por todas seu dilema entre a literatura e a música.

Nunca tiveram uma resposta. No dia 3 de Julho de 71, James Douglas Morrison foi encontrado morto numa banheira do apartamento alugado em Paris. Uma morte cercada de mistérios, que aumentaria a dimensão do mito. (A causa oficial, parada cardíaca, nunca foi confirmada, e Pamela, a única pessoa que viu o corpo, morreria de overdose de heroína três anos depois.)

Os três remanescentes ainda lançaram mais dois discos - Other Voices (71) e Full Circle (72) - que praticamente ignorados por público e crítica. Para eles, o Doors haviam morrido junto com Jim Morrison.

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