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As línguas antigas da Itália

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A língua latina

Introdução

        O latim era uma língua do grupo itálico das línguas indo-européias e muito próxima das línguas dos oscos, sabinos, umbro-picentes, samnitas ...

        Como as demais línguas do grupo, o latim evoluiu da oposição entre o gênero dos inanimados e o dos animados para a oposição dos gêneros masculino, feminino e neutro.

        Era uma língua fortemente flexionada: nos verbos, as terminações indicavam o modo, o tempo e a pessoa que promovia ou recebia a ação. Nos substantivos, adjetivos e pronomes, também a terminação (desinência) indicava se a palavra dizia respeito ao agente da ação, seu receptor ou alguma outra situação (tal como o meio pelo qual a ação ocorria, o lugar em que se dava e assim por diante). Vejamos alguns exemplos: usamos as palavras cives (cidadão), columba (pomba), videt (vê) e videtur (é visto). Como o latim não usava artigos, colocamos os artigos definidos entre colchetes para melhorar o entendimento.

cives  videt columbam = [o] cidadão vê [a] pomba.
civem videt columba   = [a] pomba vê [o] cidadão
cives videtur columba = [o] poeta é visto pela pomba
cive  videtur columba  = [a] pomba é vista pelo cidadão

        Como se vê, o final das palavras indica a função sintática do termo na oração. Isso tornava desnecessária a ordem das palavras na oração, uma vez que sua função estava marcada pela desinência.

        Os casos, que determinavam a função sintática da palavra eram sete:

Nominativo definidor do sujeito da oração
Genitivo definidor partitivo (relação de posse, como por exemplo A casa de Paulo )
Dativo identifica quem recebe ou está interessado na ação (em particular, o objeto indireto da oração)
Acusativo a quem a ação se dirige (em particular, o objeto direto da oração)
Ablativo caracterizador de origem
Vocativo usado para o chamamento (Ó, Fulano)
Locativo caso arcaico que só sobrou nos últimos estágios do latim em algumas expressões idiomáticas

 

        Para efeitos didáticos, os gramáticos separavam as palavras em declinações, que agrupavam as palavras segundo sua vogal temática (isto é, a última vogal existente antes da desinência). Havia três declinações principais: a primeira, com vogal temática em A; a segunda, com vogal temática em O/U e a terceira, com vogal temática em E. Por razões históricas, ficaram duas declinações (vogais temáticas em U e em E) com algumas poucas palavras.

        Um quadro apenas aproximado das declinações dos substantivos e adjetivos é o seguinte:

Casos

Declinações

Tema em A Tema em O(1) Tema em E Tema em U Tema em E (3)
singular plural singular plural singular plural singular plural singular plural
Nominativo A Æ US I diversos(2) ES US ou U UA ES EI
Genitivo Æ ARUM I ORUM IS (I)UM US UUM EI ERUM
Dativo Æ IS O IS I ou E IBUS UI IBUS EI EBUS
Acusativo AM AS UM OS EM ou E ES UM ou U US ou UA EM ES
Ablativo A IS O IS E IBUS U IBUS E EBUS
Vocativo A Æ E I diversos ES US UA ES EI
(1) O tema em O é encontrado em arcaísmos: uma inscrição antiga mostra um cavalo e a palavra ROMANOM
(2) A maioria delas como evolução de formas antigas (dux < duces, urbs < urbes, serpens < serpentes)
(3) Um E longo, ao contrário do E breve da terceira declinação

        É claro que havia inúmeras exceções, mas isso não interessa aqui. Observe que onde há duas formas na tabela acima, a segunda era usada pelas palavras do gênero neutro.

        Dessa forma, em resumo, o latim marcava a função sintática da palavra na oração pela desinência da palavra. As desinências podiam variar segundo a declinação, isto é, segundo a vogal temática da palavra.

        Bom, essa era a regra com a qual a língua jogava o seu papel. Contudo, seu léxico, morfologia e sintaxe sofreram a reação dos falares locais e, por isso, se modificaram, principalmente depois que guerras intestinas na Itália quase extinguiram o grupo indígena original do Latio e que ascendeu ao estamento dos patrícios romanos.

O latim arcaico

        O latim dos pastores do Lácio guarda muitas características comuns com as demais línguas itálicas, embora se suspeite ser o latim bem mais antigo que as línguas do grupo osco-umbro.

        No período arcaico inicia uma série de câmbio na sonoridade indo-européia, algumas motivadas pela contaminação linguística decorrente da proximidade da civilização etrusca, mais amadurecida e rica. Por exemplo, as consoantes indo-européias *dh e *bh no meio das palavras mudam de sonoridade para /b/. Para os substantivos femininos, o latim arcaico mostra ter preservado o genitivo singular em -AS.

        Na morfologia nominal, o dativo do tema em -O tinha a forma -OI, assemelhada ao osco. Apenas depois evoluiu para -I.

        Quanto à morfologia verbal, o antigo aoristo dá origem ao tempo pretérito.

        A mais antiga inscrição em latim até agora encontrada é do século VII a.C. (Biblioteca Augustana):

iovesatdeivosqoimedmitatneitedendocosmisvircosied
astednoisiopetoitesiaipacarivois
dvenosmedfecedenmanomeinomdzenoinemedmaostatod

ou, reescrita:vaso_duenos.gif (9228 bytes)

 

 

iouesat deiuos q[u]oi med mitat nei ted endo cosmis virgo sied
as(t) ted noisi o(p)petoit esiai paca riuois
duenos med feced en manom einom duenoi ne med ma[l]o[s] statod

uma tradução proposta é:

Jurei pelos deuses que me mandaram. Se uma donzela não sorri nem se dirige a você, suavize-a com essências.
Eu vim até um [homem] bom, que tinha boas maneiras, e um [homem] perverso não deve tirar-me dele.

 

        Todavia, parece claro que a última sentença diz que "Duenos me fez com a mão dele. A Dueno  (...) me mal está"

 

        Outras inscrições arcaicas foram encontradas, tais como a Tábua Lanuvina (séc. VI a.C.)

Castorei Podlouqueique qurois

        Ainda desse século VI a.C., ficou o canto Fratum Arvalium:

enos Lases iuvate
enos Lases iuvate
enos Lases iuvate
neve lue rue Marmar sins incurrere in pleoris
neve lue rue Marmar sins incurrere in pleoris
neve lue rue Marmar sins incurrere in pleoris
satur fu, fere Mars, limen sali, sta berber
satur fu, fere Mars, limen sali, sta berber
satur fu, fere Mars, limen sali, sta berber
semunis alterni advocapit conctos
semunis alterni advocapit conctos
semunis alterni advocapit conctos
enos Marmor iuvato
enos Marmor iuvato
enos Marmor iuvato
triumpe triumpe triumpe triumpe triumpe

 

        Datadas do século V a.C. são as Leis das Doze Tábuas (duodecim tabularum leges). Do século IV a.C., foi recuperado o Canto de Saliare.

        No território volsco, em Satricum, foi encontrado um templo à deusa Mater Matuta e sobre uma pedra do santuário uma inscrição datada de fins do século VI a.C., pois ali foi citado Publio Valerio Publicola, cônsul em 509 a.C.

iei steterai popliosio ualesiosio suodales mamartei

sua tradução seria "os seguidores de Públio Valério colocaram esta pedra (em honra) a Marte"

        Os clássicos (Horácio, Plauto e Políbio, entre outros) declaram expressamente que não conseguiam entender o latim arcaico. Políbio, por exemplo, se declarava incapaz de entender o texto do primeiro tratado de paz entre Roma e Cartago (509 a.C.).

O latim popular

        Paralelamente, o enriquecimento das comunidades latinas atraiu gente de toda parte do império, principalmente das regiões sulistas, cuja fala era de origem osca, e os de fala úmbria do leste da península.

        O influxo de tais contingentes humanos causou um rearranjo na língua latina, tanto porque os novos habitantes não se davam conta da sutileza da língua falada pelos patrícios, quanto pelo próprio fato de que essas populações preservavam modos de falar campesinos. Aparentemente, eles consideravam a fala formal da elite um modo insincero de expressar-se e, por isso, se comunicavam entre si aportando ao latim sua própria estrutura mental, eivada de diminutivos e expressões derivadas da lide rural.

        O latim decorrente dessa acomodação teve alguns dos casos simplificados no decorrer dos séculos. O nominativo, o vocativo e o acusativo se fundiram. O ablativo foi paulatinamente sendo preposicionado e as preposições cada vez mais regiam o nominativo/acusativo . Com isso, a rigidez na formulação da sentença passou a ser exigida para o entendimento da comunicação.

        Algumas mutações decorrentes do reajustamento do latim não chegaram às províncias e se constituem em fenômeno local. A gramática chamada Probi Appendix (anexo de Probo) mostram diversas dessas expressões, consideradas erradas diante da norma culta.

        Outras, passaram às províncias por intermédio de comerciantes, soldados e clérigos. As inovações linguísticas se propagavam por ondas de choque. Cada comunidade absorvia algumas das novidades vindas do centro culturalmente mais evoluído e as adaptava. Essa versão adaptada da inovação original era, por sua vez, copiada pelas comunidades imediatamente periféricas. Destarte, sempre havia um hiato entre os falares centrais e os periféricos. E os falares periféricos eram geralmente arcaizantes, uma vez que estavam sempre usando o modo mais arcaico de utilizar a língua. Por essa razão, o depois imperador Trajano causava risos no Senado ao discursar usando o sotaque e vocabulário aprendidos na Hispania.

        Ao lado de conservar arcaísmos, as periferias resolviam seus problemas linguísticos adotando soluções locais. Quando o Império Romano entrou em colapso, acabou o magneto central que mantinha a unicidade linguística e ditava normas cultas a todo o império. As soluções locais se multiplicavam. A chegada de invasores germânicos na Hispania acelerou a dialetização do latim hispânico.

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Administrador: Marco Polo Teixeira Dutra Phenee Silva