Olhão Capital da Ria Formosa



Quando foi elevada à categoria de Vila, Olhão era uma localidade com pouca importância relativa, embora fosse já uma das mais populadas e economicamente mais desafogadas aldeias Algarvias. A área urbana de Olhão era bastante limitada. Reduzia-se ao actual Bairro Velho Da Barreta que a tradição dizia ter sido o núcleo inicial da povoação, à parte mais antiga do que é hoje o Bairro do Levante, e ao pequeno aglomerado intermédio a que chamavam bairro do Pelourinho por ali ficar a cadeia local. E terminava nas cabanas de S. Bartolomeu, situadas no extremo da então bem pequena rua do mesmo nome (actual Rua Almirante Reis) e nos adros da Igreja Matriz conhecida pela "Igreja Grande". O primeiro desses adros confinava então para uma das fases um campo de figueiras da qual ainda hoje ali existe a casa que teria sido do proprietário. O segundo adro do campo da Feira (actual jardim Dr. João Lúcio) estendia-se apenas, para um lado até as cabanas das lavadeiras (Rua Carlos da Maia) e por outro lado até uma zona pelo povo denominada " Os Charcos" (cruzamento da Rua Diogo de Mendonça Corte Real com a Avenida da Republica). Os 1133 fogos com 4781 habitantes existentes em Olhão em 1802 só podiam caber em escassa área mercê do estilo amoiriscado (influencias marroquinas), construções pequenas e unidas, muitas vezes encavalitadas, na sua quase totalidade dispondo de divisões suplementares nas açoteias sob os mirantes e contra - mirantes. E devido à estreiteza quase inconcebível dos largos e larguinhos, dos becos e das ruas e travessas que se torcicolavam em voltas e contra - voltas, formando no conjunto um emaranhado exótico que já tem sido comparado às "Kashbahs" das velhas cidades Norte - Africanas, (algumas ainda hoje se mantêm com o mesmo nome "sete cotovelos", "Micanas", "Sol - Posto", etc.). Estas ruas e travessas serviam tanto de via de acesso às habitações como de logradouro aos moradores que as utilizavam em grande parte dos próprio trabalhos domésticos ( a vida da maioria da população se fazia na rua). O próprio amanho e salga ou secagem ao sol de peixe para exportação, já era então uma das mais florescentes indústrias locais, eram feitas na maioria das casas ao ar livre. A pescaria e mau cheiro das ruas de Olhão eram já então provensais em todo o Algarve, e continuavam a sê-lo... A fama de que Olhão já desfrutava e a revolta dos Olhanenses contra os Franceses invasores sem duvida, muito aumenta cá provinha-lhe principalmente do arrojo e da audácia dos pescadores , na perícia dos mareantes e comerciantes da navegação de cabotagem e nos típicos Caíques, que se haviam tornado famosos nas viagens aos portos mais importantes do Mediterrâneo e do Norte de África transportando os produtos Algarvios, sal, frutos, peixe salgado e o peixe seco (denominado localmente como "leitão"). E também a audácia dos seus contrabandistas. Tudo isto lhes deu o direito de possuírem um compromisso marítimo próprio e privativo. Os bens provenientes destas actividades em poucos anos permitiu a quase total substituição do primitivo aglomerado de cabanas por casas de alvenaria e a construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário. Esta razoável prosperidade económica que atraiu gente de outras localidades, pescadores, comerciantes, fizeram o rápido crescimento populacional do lugar de Olhão que se verifica a partir de 1732.

  • Grande desenvolvimento urbano

Por volta de 1826 a área urbana começa a alargar-se na direcção do Alto do Barro vermelho, começava a estender-se na direcção e ao longo do único caminho de acesso à povoação que era então praticável de Verão e Inverno com marés baixas e com marés vivas, visto que, por todos os outros lados a vila era ainda rodeada apenas por terrenos alagadiços, salgados e sapais, cortados por valas e ribeiras. Em 1833 as casas chegavam já à actual Rua da Liberdade. E estendiam-se dali ao encontro do núcleo inicial (Barreta) A rua Direita (actual Dr. Paula Nogueira) e a Rua Formosa (actual Rua Gonçalo Velho) são características na morfologia tradicional das povoações portuguesas, a 1º constituída por um caminho curto e fácil ou "mais direito" da única entrada da vila para o seu centro e para os seus bairros mais antigos. É neste período que nas novas ruas bem como nas mais antigas começam a surgir as primeiras casas de habitação já com certo porte e aparato exterior e mesmo interior que do estilo das primeiras casas olhanenses só conservavam as abóbadas de tijolo e os mirantes e contra - mirantes no cimo das açoteias. O desenvolvimento económico, populacional e de construção urbana sofre uma interrupção que Olhão se transforma em teatro dos episódios sangrentos das chamadas lutas liberais, que coincidiram com um surto de peste. Mas a recuperação do povo olhanense é muito rápida, todos os que haviam fugido assim que a situação melhora regressam, forasteiros que haviam chegado com as tropas acabam por se fixar na vila. Depois o desenvolvimento naval acelerado da navegação de cabotagem atrai mais gente da marinha mercante nacional e estrangeiras. De tal forma que em 1837 a população sobe para 5500 habitantes e 1150 fogos. É quando é criada a Comarca Judicial de Olhão, a população chegara a 7016. Este grande desenvolvimento obriga a um aumento de construções adicionais e a um relativo desenvolvimento urbanístico da vila. Em 1852 a câmara inicia a construção do 1º cemitério no Barro Vermelho, para facilitar o respectivo acesso, constrói uma estrada sobre o caminho que era a única saída da localidade por terreno seco e não tarda que essa estrada comece a orlar-se de edificações dando origem ao troço médio da actual rua 18 de julho, alargando assim a vila. As construções alargam-se para poente em direcção aos alagadiços conhecidos por "Prainhas" dando origem as actuais ruas Serpa Pinto, Diogo Cristina, Capitão Nobre, etc. O desenvolvimento da terra, levou o município a obras de embelezamento da vila. Em 1872-73 constrói um passeio público que ia da Igreja Matriz até ao extremo do Campo da Feira, actual 1º troço da Avenida da Republica, já urbanizada e dotada de 10 candeeiros de iluminação pública. O ambiente social da vila começa a apresentar uma certa elevação, fundando-se em 1858 a Sociedade Recreativa Olhanense de elegância e mundanismo a que o povo logo chamou "Recreativa Rica". Em 1877 é criada a Sociedade Recreativa União destinada às classes que a anterior não aceitava. Movimento do porto atinge tais proporções que em 1842 é criada uma Alfândega em Olhão. Em 1857 a Câmara Municipal vê-se mesmo obrigada a construir um cais acostavel no lado poente da praia, transferindo para nascente (Moinho do Sobrado) os estaleiros navais.(tais que em 1866 inaugura um pequeno mercado coberto destinado à realização da lota do peixe e à venda de pescado ao público. Mais tarde dado o aumento das frotas locais de pescas e comércio é criada a capitania do Porto de Olhão desde o início considerada das mais importantes do sul do país. Todo este movimento de pesca e navegação de cabotagem leva a um extraordinário desenvolvimento de outras indústrias antigas e à criação de industrias novas; construção naval, olaria (alcatruzes) extracção de sal, etc. O desenvolvimento industrial e comercial de Olhão é tão rápido e grande que em 1842 já havia um serviço de correios e entregas postais de grande movimento.

  • Progresso Social, cultural, urbano e económico

A indústria de conservas de peixe, levou ao aumento da população, pois atraiu empresários, operários trabalhadores rurais etc. que seduzidos pelos salários se instalaram em Olhão. O desenvolvimento do comércio geral consequência da industrialização das pescas e das conservas, atraíram muito mais gente de vários pontos de Portugal. De tal forma que em 1900, vinte anos depois de instalada a primeira fabrica de conservas de peixe a população olhanense subira já para 10009 habitantes. Este aumento da população abriga a um aumento considerável de construções habitacionais alargando a área urbana da vila, sobre terrenos expropriados, alargando o troço do passeio público, arborizando-o e iluminando-o o que permite que nessa área se inicie quase imediatamente a construção de novas habitações, se abram novas ruas. Em 1903 constroi-se a linha de caminhos de ferro obrigando à construção de um viaduto para que não ficasse cortado o acesso da vila ao cemitério e à estrada real de Faro para Tavira. A linha fez com que junto a ela se construam unidades fabris e armazéns comerciais destinados à distribuição de produtos agrícolas para consumo da população. Es te alargamento da área urbana da vila originou logo alguns problemas administrativos, pois ultrapassou os limites da freguesia. A benção dos limites veio a efectuar-se por decreto em 19 de Julho de 1901. Mas surgiram outros problemas como o abastecimento em especial de carros e águas. Em 1888 é construído o Matadouro Municipal (o mesmo é único que ainda hoje existe, embora tenha sofrido diversas transformações e ampliações através dos anos) o problema de abastecimento de água era mais grave, as únicas fontes de água eram o Poço Velho, o Poço Pequeno cuja a água só servia para o bebedoiro dos animais e o Poço Novo. Por isso a câmara decidiu abrir mais um poço na Rua das Lavadeiras com o passeio público (hoje R. Carlos da Maia Com a Avenida da Republica). Nas duas ultimas décadas de Oitocentos a Primeira de Novecentos começa também a operar-se em Olhão profunda e extensa transformação social e cultural. E entre os pescadores e mareantes associados no compromisso marítimo que surgem as mais importantes e mais válidas iniciativas no campo da assistência e previdência, sendo a primeira sem duvida a mais notável, a construção de um Hospital em Novembro de 1885 sobre a invocação de Nossa Senhora da Conceição, obra grandiosa para a terra e para a época e deriva hoje um dos maiores e mais importantes edifícios públicos da vila. Os pescadores de mareantes continuaram a sua luta pela ampliação dos serviços de assistência e previdência do compromisso marítimo. E o êxito destas iniciativas acaba por incentivar outras classes no ano de 1901 fez-se a primeira tentativa de construção de um Corpo de Salvação Pública Olhanense (Bombeiros Voluntários), mas não chegou a existir por falta de bombeiros. Apesar de Ter existido sempre na vila um "mestre de ler" em 1833 foi fundada na vila uma escola popular gratuita com professores vindos de fora, chamaram-na Escola Republicana, instalada na Rua da saudade, mas com a industrialização das conservas do peixe, levava muitas mulheres para fora das suas casas durante o dia, fez com que aparecerem o que logo se começou a chamar "escolinhas" que faziam o papel dos infantários dos nossos dias. Em 1888 foi fundado o Grémio Recreativo Olhanense, que ainda hoje existe sob a designação de Clube Recreativo Olhanense. Em 1891 Avelino da Silva instala em Olhão uma praça de Touros, que foi a 1º a existir no Algarve e funda-se o Clube Artístico Recreativo Olhanense. Em 1892 é fundada com o nome de Clube Gimnástico Olhanense que ainda hoje existe com o nome Ginásio Clube Olhanense e é portanto uma das mais antigas do género em todo o Algarve . É também neste período que aparecem os primeiros jornais Olhanenses que tanta influencia exerceram na vida local. Apesar da agitação social e política que se verificou e também se Ter feito sentir em Olhão as repercussões da entrada de Portugal na I Grande Guerra (1916 - 1918) e os efeitos da epidemia de gripe pneumónica que assolou todo o País (1918 - 1919) é neste período que o desenvolvimento industrial se acelera e se aproxima do seu apogeu. As industria subsidiárias da industria de conservas de peixe que já existiram tiveram que se desenvolver e outras novas tiveram de ser instaladas como por exemplo a litografia para estampagem em folha de flandres, caixotaria, fabrico de pregos, etc. Tudo isto trouxe a Olhão mais gente, de vário pontos do país e estrangeiro, mas a sua população natural não aumentou devido ao surto de gripe e também a emigração. Devido a este surto de progresso em 1910 foi criada em Olhão uma delegação da Caixa Geral de Depósitos. Em termos culturais em 1908 exibe-se pela primeira vez em Olhão o que mais tarde se chamaria animatógrafo e depois cinema e então foi apresentado com o bem arrevesado nome de StereoChronophonocinema. O seu êxito foi tão grande que no ano seguinte se realiza uma Segunda sessão com o nome Kinematógrapho. Em 1912 é inaugurada a 1ª casa de espectáculos cinematográficos, embora ainda num simples barracão de madeira coberto de Zinco. É também neste período que o desporto e designadamente o futebol verdadeiramente começa a ser praticado em Olhão, utilizando como campo o largo da Feira nas Prainhas (onde hoje estão instaladas as Escolas Primárias nº 1 e nº 2) sempre que as marés o deixavam enxuto e praticável. Dando origem em 1912 ao Sporting Clube Olhanense . Nesse ano em virtude da reforma do ensino primário, a antiga Escola Régia passa a ser chamada Escola Primária Oficial com mais professores, alugando a câmara à Igreja Paroquial a residência do pároco, que ainda hoje existe situada ao lado do posto da GNR na actual Avenida da República e depois passa a designar-se Escola Central com a instalação da linha férrea muitos alunos deslocam-se diariamente para Faro para frequentarem o liceu, a Escola Comercial e Industrial e a Escola Primária Superior.